Título: Em Cuba, doença do líder bolivariano é questão de segurança nacional
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 02/07/2011, O Mundo, p. 39

Apreensão com destino de Chávez, cujo governo gera US$6 bilhões anuais à ilha

HAVANA. Em Cuba, o segredo é o habitual, ainda mais quando se trata de um tema sensível. No caso das relações cubano-venezuelanas e da saúde de seu principal aliado, Hugo Chávez, falamos de assunto supersensível, até mesmo de segurança nacional. Não é estranho que desde que foi operado no dia 11 de junho, o manejo da doença de Chávez em Havana tenha sido similar ao ocorrido com a crise de saúde de Fidel Castro em julho de 2006: tratamento de assunto de Estado, hermetismo absoluto, vazamento zero.

Há muitas coisas em jogo e por isso as dores e tropeços de Chávez, tanto os de saúde como os eleitorais, são seguidos na ilha como um tema de política interna e altamente valorizados. Para o governo de Raúl Castro, a Venezuela bolivariana é um pilar estratégico e também uma garantia econômica e política da qual não é possível prescindir nestes momentos de crise aguda, doméstica e internacional.

Não se trata somente da multiplicação por dez das trocas comerciais com a Venezuela nos últimos anos, que superam a cifra de US$3,5 bilhões ao ano, o que converte Caracas no principal parceiro comercial da ilha. O peso das relações adquire verdadeiro valor quando se leva em conta que Havana recebe uns 100 mil barris diários de petróleo venezuelano a preços preferenciais - de outro modo Cuba teria muitas dificuldades em pagar - e "exporta" ao país sul-americano os serviços de 30 mil médicos e equipes de saúde, além de outros 10 mil técnicos, profissionais, professores e treinadores, que participam em diversas missões sociais.

Trata-se de um negócio impossível de repetir, que se converteu na principal fonte de renda para Cuba e que algumas fontes estimam em cerca de US$6 bilhões ao ano. Na época de relacionamento mais intenso entre Cuba e a extinta União Soviética, o volume de trocas bilaterais era da ordem de US$8 bilhões e representava 70% do comércio total da ilha. Hoje existem mais de uma centena de empresas e associações mistas, e a Venezuela respalda projetos multimilionários, como o de reabilitação e ampliação da refinaria de Cienfuegos, financiada com capital chinês e garantida pelo petróleo venezuelano, com bilhões de dólares de investimento.

Granma: pronunciamento a venezuelanos na íntegra

O jornal "Granma" demonstrou como a saúde de Chávez é assunto de vital importância para os cubanos. Na página três foi reproduzido na íntegra o pronunciamento de Chávez ao povo venezuelano feito na véspera. Nas páginas quatro e cinco constava uma importante reunião do Conselho de Ministros de Cuba, presidido por Raúl Castro, no qual se informou que antes do fim do ano os cubanos poderão comprar e vender casas e carros. A reforma já foi aprovada pelo Partido Comunista cubano no último Congresso, mas somente agora se trabalha na elaboração de uma nova Lei Geral de Habitação.