Título: Arminio diz que meta de inflação deve chegar a 3%
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 02/07/2011, Economia, p. 33

Ex-presidente do BC disse que depois que "gênio sai da garrafa é difícil botá-lo lá dentro de novo"

O ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga disse ontem estar muito satisfeito de ver aquela instituição manter a política de meta de inflação - embora gostaria que, à essa altura, ela já fosse menor do que os 4,5% ao ano, meta mantida até 2013. Pelos seus cálculos, esse índice poderia ter sido baixado um pouco no ano passado, quando a inflação estava mais controlada:

- Não tenho critica a este ano. Em 2010 houve uma chance e não teria custo. O importante é o Brasil perseguir uma meta mais baixa, que em alguns anos chegue a 3% e com uma banda mais estreita (hoje são dois pontos percentuais de tolerância).

O economista diz gostar o sistema de metas:

- Gosto demais de uma meta de inflação. Ela é necessária, porque uma vez que o gênio saia da garrafa é muito difícil botá-lo lá dentro outra vez.

As declarações foram feitas em discurso durante um almoço, ontem, no seminário especial de dois dias que o G-20 e o Banco Central promoveram no Rio. Arminio demonstrou preocupação com a aparente rapidez na forma como vêm sendo conduzidas as políticas de enfrentamento da crise global. E, em especial, com a enxurrada de novas ideias e ferramentas propostas em vários países, sem base sólida, para resolver o problema.

Controle de capital só funciona a curto prazo

Arminio disse que é preciso ter cuidado ao se usar os bancos centrais como emprestadores de último recurso e de intervencionistas no câmbio:

- Não há dúvidas de que as coisas não funcionaram e que, depois de uma crise gigante, há enorme esforço com ênfase nos bancos centrais. Os ventos de mudança, talvez as tempestades de mudança, estejam soprando com muita força. Mas parece que muitos observadores acham que, com isso, ganharam licença para propor qualquer coisa.

Arminio chamou a atenção para a assimetria nas políticas macroeconômicas e regulatórias. E lembrou que a regulação financeira - essencial nesse processo - tem sido pró-cíclica.

- Fala-se muito em controle de capital. Talvez isso funcione a curto prazo. Mas o fato é que esse tipo de controle tende a perder o gume muito rapidamente - avisou.