Título: Guerra a Sarney em outro front
Autor: Pariz, Tiago; Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 14/08/2009, Política, p. 6

Incertos quanto aos votos do PT para desarquivar pelo menos parte das representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), senadores interessados nas investigações preparam um jeito de levar essa votação para o plenário da Casa. O grupo capitaneado por Pedro Simon (PMDB-RS), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Cristovam Buarque (PDT-DF), José Neri (PSol-PA) e Renato Casagrande (PSB-ES) não descarta, em conversas reservadas, levar o caso ao plenário, na hipótese de o Conselho de Ética votar pela manutenção do arquivamento.

A ideia do grupo é a de que Sarney, ainda que escape no conselho, continuará frágil. E, para readquirir a autoridade que deve ser inerente a um comandante, seria necessário passar por uma nova votação no plenário, como se fosse um referendo dos senadores ao seu presidente.

A tese defendida pelos opositores de Sarney é polêmica. O recurso com a assinatura de nove senadores vale hoje para projetos aprovados ou rejeitados em comissões técnicas da Casa. Eles tentariam, por analogia, incluir as decisões Conselho de Ética nesse rol. E, se a Mesa Diretora do Senado não acolher o pedido para que o desarquivamento seja julgado em plenário, eles podem sempre recorrer à Comissão de Constituição e Justiça, terreno comandado pelo senador Demostenes Torres (DEM-GO), implacável no combate ao governo e, por tabela, ao PMDB. Foi ele quem liderou a manobra pela convocação da ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira ao Congresso para contar se a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, realmente pediu que suspendesse as investigações sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

Do ponto de vista político, a ideia não encontra eco no PMDB e nem no PTB. Mas faz balançar ainda mais a árvore do PT, que, nas palavras dos sarneyzistas continua ¿petizando¿ e, ao se preocupar mais com o seu próprio futuro eleitoral e defender a abertura de investigações, mantém a crise acesa.

Enquanto o PT fica com um pé ao lado de Sarney e outro longe, os oposicionistas se reuniram num ato promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ontem. Com a participação de quatro senadores, Cristovam, Neri , Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Pedro Simon, começaram a desenhar um movimento pelo país em prol da ética no Senado. Já que, internamente, muitos buscam acordos pelo fim da crise, quem é contra o arquivamento coletivo vai quer, agora, um movimento externo. Se vai dar certo, ninguém sabe.