Título: Nissan quer revolucionar marca no Brasil
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 02/07/2011, Economia, p. 30

Presidente da empresa topa até ser garoto-propaganda para ampliar mercado

GHOSN EM anúncio do plano estratégico da Nissan em Yokohama: US$600 milhões para fábrica no Brasil

TÓQUIO. Desde 1999, quando assumiu a presidência da Nissan, Carlos Ghosn, que também dirige a francesa Renault, cortou empregos, fechou fábricas, apostou em novas tecnologias, invadiu países como a China e sobreviveu a duas grandes crises: a de 2008 e a de março deste ano, quando a tsunami arrebentou a produção no Japão.

Mesmo com uma trajetória tão cheia de desafios, o homem que ressuscitou a Nissan diz que esperava com impaciência pela hora de anunciar um novo alvo: o mercado brasileiro. Nascido em Rondônia numa família de libaneses, Ghosn afirma que a construção de uma fábrica no Brasil será o primeiro passo de uma ofensiva para revolucionar a marca japonesa num país com o qual ele tem uma relação especial. É um negócio estimado em US$600 milhões e pelo menos três possíveis locais estão sendo avaliados. A decisão, que abriria na região escolhida cerca de quatro mil empregos diretos, sai no fim de 2011.

¿ Começaremos com a produção de 200 mil carros por ano e, no segundo passo, 400 mil. Levaremos vários novos modelos para os brasileiros. Serão carros com um design atraente e boa performance, mas com preço baixo por terem produção local. É essa a nossa linha de frente nos mercados emergentes ¿ adiantou Ghosn.

Numa conversa com o GLOBO na sede da companhia, em Yokohama, no dia seguinte à divulgação da mais ousada estratégia de crescimento mundial já anunciada pela Nissan, Ghosn se definiu como um ¿carioca por adoção¿ e um ¿menino do Rio¿, cidade onde moram sua mãe e duas irmãs. Embora não tenha sido criado no Brasil (ele morou no Líbano e na França), fala português fluentemente, assim como seus quatro filhos.

¿ Eles tiveram uma babá brasileira, muito importante para a família, e era quem decidia o que eles podiam ou não comer. E quem controla isso tem total poder sobre as crianças, certo? Eles aprenderam português bem rápido ou nunca teriam conseguido pedir um chocolate ¿ contou, bem-humorado, o diretor-executivo da aliança Renault-Nissan, tão famoso no Japão que já virou até personagem de história em quadrinhos.

Para atingir a meta de ampliar de 1,2% para 5% do mercado brasileiro até 2016, Ghosn se disse disposto a ser o garoto-propaganda da Nissan.

Meta é atingir 5% das vendas no Brasil

Mas como convenceria o público a comprar uma marca que não é conhecida no Brasil?

¿ Diria que é uma marca japonesa e os brasileiros respeitam isso, pois sabem que é sinal de qualidade. Diria também que não é um produto japonês chato, entediante, mas inovador, e com preços acessíveis. E ainda lembraria que nos preocupamos com o meio ambiente.

A ideia de fabricar um carro elétrico no Brasil, como o Leaf, que não usa combustível e é abastecido na tomada, ainda é uma possibilidade remota, admitiu Ghosn. A montadora investiu na tecnologia da emissão zero em países que ofereceram subsídios oficiais, como EUA, Japão e Europa. Isso já foi acertado na China.

A Nissan diz que sua produção já está quase normalizada. As duas crises gigantes, a financeira e a da tsunami, trouxeram lições.

¿ A primeira é que uma crise só explode quando não esperamos. A segunda é estabelecer uma prioridade muito clara para sobreviver, suspendendo todo o resto. E a terceira é que uma crise é o melhor momento para avaliar os funcionários, porque é quando vemos quem fica parado e quem reage ¿ disse.