Título: BNDES diz que só participa de fusão se for consensual
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/07/2011, Economia, p. 31

Após repercussão negativa, Coutinho avisa a Diniz que banco não dará R$4 bi se impasse entre Pão de Açúcar e Casino persistir

DINIZ e Casino trocaram acusações de ilegalidade: sócio francês alega violação de acordo de acionistas

BRASÍLIA. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, avisou ontem ao empresário Abilio Diniz que a BNDESPar, braço de participações do banco de fomento, só injetará recursos na operação de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour Brasil se o impasse entre a companhia brasileira e seu sócio francês, a rede varejista Casino, que se opõe à transação, for resolvido. Caso contrário, a fusão pode ir adiante, mas sem qualquer centavo de dinheiro público.

A conversa ocorreu na tarde de ontem, em São Paulo. A reunião foi convocada após a repercussão negativa da entrada do banco federal de fomento no negócio, que sofre forte oposição do Casino, que por sua vez abriu guerra contra Abilio Diniz, a quem acusa de agir ilegalmente. A BNDESPar estuda entrar na sociedade com R$4 bilhões.

"Não pode ser uma oferta hostil"

Por isso, com instrução da presidente Dilma Rousseff - que já ordenara na véspera que o BNDES soltasse uma nota para afirmar que a entrada do banco dependia de respeito a contratos -, Coutinho esclareceu a Diniz os termos da participação pública no negócio.

- O BNDES não é o protagonista. O banco recebeu uma proposta que considerou interessante para enquadrar (admitir para análise). Mas deixamos claro que se a premissa de fechar um entendimento com o Casino não for alcançada, o BNDES não vai adiante - afirmou uma fonte que acompanha de perto a movimentação do BNDES e do Palácio do Planalto.

Luciano Coutinho dará o mesmo recado ao presidente do Casino, Jean Charles Naour, com o qual se encontrará segunda-feira, no Rio.

- Tem que ser uma operação boa para todos os lados. O BNDES avalia que é boa para ele, mas tem que ser boa para todos. Não pode ser uma oferta hostil - complementou o interlocutor do governo.

Segundo uma fonte, esse princípio se sobrepõe à avaliação do governo de que a frustração da fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour levará à desnacionalização do varejo. Isso porque o Casino tem opção de compra do controle do Pão de Açúcar (hoje dividido com Diniz) a partir de 2012, e o Palácio do Planalto trabalha com um cenário no qual a rede francesa e o americano Wal-Mart (terceiro do ranking nacional) mantêm conversas e podem vir a unir operações no Brasil.

Já na terça-feira, quando a negociação para a fusão tornou-se pública, o governo entendia que o impasse jurídico era um obstáculo importante à concretização da união. No entanto, com o bombardeio ao BNDES, a presidente Dilma orientou que a cautela fosse redobrada e que a direção do banco desse declarações públicas para esclarecer as condições em que se daria a participação da instituição na fusão. Dilma reiterou a diretriz de que o BNDES só financia operações consensuais.

Está longe do caso da fusão em discussão. As relações entre Diniz e o Casino azedaram há dois meses, quando a imprensa francesa revelou que o empresário brasileiro vinha mantendo conversas com o Carrefour. O Casino levou o caso à Câmara Internacional de Arbitragem - como sócio, não foi consultado, e por isso alegou violação do acordo de acionistas.

Anunciada oficialmente a intenção de fusão, esta semana, Casino e Diniz trocaram pesadas acusações de ilegalidade de parte a parte por intermédio de anúncios nos principais jornais e notas oficiais. O Casino adotou ainda tática de guerrilha e entrou com disposição no mercado comprando ações do Pão de Açúcar, para aumentar sua participação na empresa: só terça e quarta-feira foi R$1,1 bilhão, o equivalente a 6% do capital do grupo brasileiro.

COLABOROU Luiza Damé