Título: Abilio Diniz: Seria um covarde se entregasse o controle aos franceses
Autor: Seleme, Ascâncio; Alves, Cristina
Fonte: O Globo, 03/07/2011, Economia, p. 38

Empresário diz que Pão de Açúcar fortalecido pode ajudar a combater inflação

O empresário Abilio Diniz tem vivido uma maratona de reuniões e encontros nos últimos dias para tentar provar que a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour é um bom negócio para todos. Uma das preocupações é mostrar que o aporte de pelo menos R$4 bilhões da BNDESPar pode ser um grande negócio para o banco público.

- O setor de distribuição e alimentos é estratégico para segurar a inflação, conter os preços - diz ele, que emenda empolgado: - Temos um compromisso com o país e com o povo deste país.

Para ilustrar seu raciocínio, Diniz tem números que traz na ponta da língua: hoje o grupo Pão de Açúcar fica com 2,2% de tudo o que vende a AmBev, 7% da Nestlé e 8% da Unilever. Na visão de Diniz, um Pão de Açúcar mais fortalecido com a fusão pode conseguir descontos que seriam repassados aos consumidores.

Mas então o Pão de Açúcar vai concentrar o mercado a ponto de sufocar fornecedores, com dizem os críticos? Diniz garante que não e explica:

- O Carrefour tem números parecidos. Mesmo que a gente dobre de tamanho, não seria uma concentração tão grande, não daria 15% de tudo o que vende a Unilever, por exemplo.

Diniz, que tem acordo com os sócios franceses do Casino para que eles possam assumir a rede em 2012, agora defende a importância do controle nacional.

- Seria um covarde se entregasse o controle aos franceses - diz ele, sem detalhar como ficariam as participações de Carrefour e Casino na nova empresa. Afinal, há o risco de a BNDESPar injetar recursos numa companhia que pode ser desnacionalizada.

Sobre a fórmula encontrada para a fusão - que não tem o aval do Casino -, Diniz que é uma "maluquice" que eles queiram ter o controle sozinhos. A solução encontrada, diz ele, leva em consideração que Pão de Açúcar e Casas Bahia estavam no limite da emissão de ações preferenciais e o Casino não podia mais se endividar.

O empresário admite que pode ter dificuldades com o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri - que desembarca neste fim de semana para conversar com o BNDES - porque "ele briga com todo mundo".

- Quando fizemos negócios, pensei: "Comigo, ele não vai brigar". Me enganei - resume.

Diante da polêmica com os sócios atuais, Abilio Diniz nega que tenha disposição para ir à Justiça contra eles e diz que sua atitude será defensiva. O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que pode assumir o caso na área criminal, é apenas "um velho amigo", diz o empresário.

Relacionamento "maravilhoso" com os Klein

Abilio Diniz, que se considera um conciliador, lembra de um episódio com Samuel Klein.

- Naquele momento, tivemos certas complicações e eu permaneci calado por seis meses e dei ordem ao meu pessoal para não falar também. Tudo foi resolvido e hoje temos um maravilhoso relacionamento com a família Klein.

O empresário não cita, mas as "complicações" começaram quando Samuel Klein pediu até R$2 bilhões a mais pelas Casas Bahia, meses depois de o negócio ter sido fechado. Questão resolvida, o neto de Samuel Klein, Rafael, é hoje o presidente da Nova Casas Bahia.

No caso do Casino, diz que tentou usar a mesma estratégia, em vão.

O empresário admite que não consegue vender produtos de marca própria (a rede tem a Taeq e a Qualitá) nas lojas Casino na França, apesar de as prateleiras do Pão de Açúcar no Brasil terem vários produtos Casino.

- Realmente temos dificuldade. Mas com o Carrefour é diferente. Eles vendem até artigos de pequenos produtores com quem têm acordo.