Título: Fatia de pequenas nos recursos do BNDES cresce, mas ainda é tímida
Autor: Durão, Mariana; Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 06/07/2011, Economia, p. 22

BRIGA DE GIGANTES: Operação expõe política de financiamento público

Banco estima participação maior em 2011, mas empresários veem entraves

RIO e SÃO PAULO. A farta disponibilidade de recursos do BNDES para a megaoperação Pão de Açúcar-Carrefour reacende críticas quanto à disparidade o que a instituição destina aos grandes grupos e o que concede às micro, pequenas e médias empresas. Em dez anos, a participação mais relevante do segmento no bolo de empréstimos do banco foi de 31,5%, em 2004. No ano passado, o grupo levou R$45,6 bi (27%) dos desembolsos totais de R$168,4 bi. A expectativa do BNDES em 2011 é ultrapassar a faixa dos 30%, impulsionado pela demanda do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e do Cartão BNDES.

De janeiro a abril, os R$15 bilhões destinados às MPMEs corresponderam a 45% dos R$33,9 bilhões liberados, ante 38% no primeiro quadrimestre de 2010. Para isso, porém, elas responderam por 94% das operações do banco de fomento. Já as grandes empresas levaram R$18,6 bilhões, com apenas 6% das operações.

Condições e acesso ainda são entraves para pequenas

O superintendente da área de Operações Indiretas do BNDES, Claudio Bernardo, diz que o banco tem melhorado processos, capacitado mais agentes financeiros e fortalecido linhas como o Cartão BNDES, crédito rotativo pré-aprovado para pequenas. Ele diz que será difícil manter o patamar do primeiro quadrimestre, mas afirma que o percentual para o segmento superará os 30%, puxado por empréstimos para compra de máquinas via PSI e pelo Cartão BNDES. Neste último, os financiamentos devem saltar de R$4,3 bilhões em 2010 a R$7,5 bilhões. No primeiro semestre, ele calcula alta de 20% em empréstimos às MPMEs, sobre os R$9,8 bilhões de 2010.

Para representantes do segmento, embora as taxas de juros do BNDES sejam semelhantes e, em alguns casos, até menores para as pequenas empresas, as demais condições de financiamento são mais duras para as de pequeno e médio porte em comparação às grandes. De acordo com a Associação Nacional dos Sindicatos das Micro e Pequenas Indústrias (Assimpi), as garantias exigidas pelos bancos que repassam os créditos do BNDES chegam a até 180% do valor financiado, para as pequenas empresas.

- Via de regra, com honrosas exceções o prazo de pagamento para pequenas empresas é de 60 meses. Para grandes, tanto prazo quanto carência são facilitados - diz Joseph Couri, presidente da Assimpi.

O ex-presidente do BNDES Carlos Lessa diz que o problema não está em financiar grandes projetos, desde que sejam multiplicadores e estratégicos na cadeia produtiva. Para ele, a dificuldade de acesso ao crédito do BNDES pelas pequenas remonta à privatização da rede de bancos estaduais de desenvolvimento, que delegou a função de agente financeiro aos bancos privados.

- Eles não têm interesse em operar essas linhas de longo prazo e fogem do risco. Os bancos intermediários, em geral, não acham a operação do BNDES rentável porque não é 100% garantida - diz Milton Antonio Bogus, diretor do departamento de Micro, Pequena e Média Indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Segundo ele, se o BNDES ampliasse o valor da garantia dada aos bancos credenciados, os custos e o acesso para o pequeno e médio empresário poderiam melhorar.

O economista Joaquim Elói Cirne de Toledo diz que o atual governo está praticando o que criticava na era FHC. Ele critica o uso de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Tesouro Nacional, que financiam o BNDES, para financiar grandes operações privadas:

- Um banco de desenvolvimento só deveria financiar pequenas empresas e inovação. Estamos subsidiando os acionistas de grandes empresas.