Título: Doente, Chávez comanda desfile militar à distância
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 06/07/2011, O Mundo, p. 29
Ausência de presidente em parada alimenta rumor de que ele iniciaria hoje nova etapa de quimioterapia
BUENOS AIRES. A ausência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no desfile militar organizado para comemorar os 200 anos de independência do país foi a notícia mais importante de ontem, em Caracas. O vazio deixado pelo líder venezuelano é fato. As razões que explicam os cuidados que está sendo obrigado a adotar o presidente, no entanto, ainda são um grande mistério e continuam alimentando dezenas de rumores. Um dos boatos que circularam ontem na capital indicava que, hoje, o presidente iniciaria uma segunda etapa no tratamento de quimioterapia, para tratar um tumor cancerígeno. A primeira etapa teria sido realizada em Cuba.
Dois cubanos estariam à frente da equipe médica
Não se sabe sequer o nome dos médicos que cuidam de Chávez. Suspeita-se que sejam dois cubanos, mas suas identidades são uma incógnita. Em Havana, o presidente teria sido operado por médicos cubanos, venezuelanos e até mesmo um espanhol que também teria tratado de Fidel Castro. Os cubanos estariam agora em Caracas, comandando a equipe que cuida de Chávez no Palácio Miraflores (sede do Executivo) e na residência de La Roca, dentro do quartel militar de Fuerte Tiuna.
Ontem, Chávez enviou uma mensagem pela TV sobre o bicentenário, acompanhado pelo comando militar. A TV chegou a mostrar, com a tela dividida, imagens do presidente e da parada. Segundo outro rumor, ele praticamente fugiu de Cuba na madrugada de segunda, porque não podia suportar estar fora do país numa data tão importante. Os médicos cubanos que teriam viajado com ele não estariam gostando nem um pouco das travessuras do presidente que, de acordo com versões cada vez mais fortes, enfrenta um complicado câncer de cólon.
- Não sabemos nada oficialmente, mas sabemos que é um caso delicado - disse Alberto Ravell, ex-diretor do canal de TV Globovisión, acrescentando que "em La Roca foi montado praticamente um hospital".
Em seus discursos, o presidente tenta mostrar-se forte, em meio a boatos sobre a possibilidade de uma reforma de gabinete. Fala-se até na saída do vice-presidente Elías Jaua, que poderia ser substituído pelo atual ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro. O chanceler foi um dos funcionários que esteve com Chávez em Havana e é um de seus homens de confiança.
- Já não somos colônia de império algum e jamais o seremos novamente - afirmou o presidente ontem.
Em Caracas estavam os presidentes do Paraguai, Fernando Lugo, operado no ano passado de um câncer linfático, do Uruguai, José "Pepe" Mujica, e da Bolívia, Evo Morales.
Está cada vez mais claro que Chávez deverá moderar a agenda nos próximos meses, mas o governo não deu qualquer sinal que pudesse antecipar o afastamento dele. Em entrevista à TV, segunda-feira, o presidente cogitou a possibilidade de realizar uma terceira cirurgia, em Cuba. Mas nada disso foi confirmado e dependerá, segundo informações extra-oficiais, do resultado do misterioso tratamento.