Título: Combinação explosiva
Autor: Galdo, Rafael; Costa, Ana Cláudia; Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 07/07/2011, Rio, p. 14

Light terá que reformar e monitorar até dezembro 1.170 bueiros próximos a redes antigas de gás

O TRECHO da Rua da Assembleia, no Centro, fechado desde segunda-feira, quando quatro bueiros explodiram: técnicos constataram vazamento de gás

OPERÁRIOS TRABALHAM no bueiro que também explodiu na Sete de Setembro, no Centro, próximo à Praça Tiradentes

e granderio@oglobo.com.br

Além de pagar R$100 mil para cada tampa de bueiro que voar, causando danos ou deixando feridos, a Light terá, até dezembro, que reformar 1.170 câmaras subterrâneas e instalar, em todas elas, sensores de monitoramento remoto. O compromisso faz parte do termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado ontem entre a concessionária e o Ministério Público estadual, com o objetivo de evitar novas explosões. Essas câmaras a serem reformadas ¿ a localização não foi divulgada, mas a maioria está na Zona Sul e no Centro ¿ têm potencial, segundo o MP, para causar grandes estragos em caso de explosões ou curto-circuitos, por estarem com a manutenção mais crítica e próximas a redes mais antigas de gás canalizado da CEG. Até julho de 2013, a reforma terá que atingir quatro mil bueiros ¿ 10% do total da Light existente na cidade. O levantamento das 1.170 galerias subterrâneas mais ¿sensíveis¿, segundo o promotor Pedro Rubim, um dos que propuseram o TAC, foi feito com base em informações da própria Light, com a participação de peritos do MP e de técnicos do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ).

¿ Essas caixas estão concentradas em locais de grande concentração urbana, grande volume de energia nos transformadores e perto da rota do gás onde a tubulação da CEG não foi reformada ¿ disse Rubim. ¿ Na Barra, que também tem câmaras subterrâneas com gás, há menos riscos, porque lá a tubulação da CEG já é adaptada e não contamina as caixas da Light.

De acordo com a Light, as 1.170 câmaras já tiveram suas estruturas reformadas, sendo as 130 últimas no fim de maio. Em nove meses, entre julho de 2010 e abril deste ano, 207 delas também já teriam recebido sensores de monitoramento. Faltaria instalar esses equipamentos em 963 até o fim do ano ¿ o que significa 5,4 por dia até 31 de dezembro.

Rede da Light no Rio tem 40 mil bueiros

O Rio tem 40 mil bueiros da Light, espalhados por 5.700 quilômetros de rede subterrânea. As quatro mil caixas subterrâneas, conforme o TAC, precisarão ser reformadas e ganhar sensores eletrônicos de gás, água e presença humana, com informações enviadas para um centro de monitoramento.

¿ A caixa subterrânea da Rua República do Peru, em Copacabana (que explodiu em junho do ano passado, deixando uma turista americana com 80% do corpo queimado), era uma dessas. A da Avenida Nossa Senhora de Copacabana que explodiu em 1º de abril deste ano também ¿ disse o promotor, mostrando que os acidentes mais graves com bueiros até agora ocorreram em câmaras com as características indicadas no TAC. ¿ Explosão de bueiro com impacto indica a presença de gás. No caso da Rua República da Peru, por exemplo, foi detectado gás.

A Light não divulgou a localização das quatro mil caixas que precisam de reforma. Segundo o promotor Rodrigo Terra, que também participou do TAC, a lista foi requerida pelo MP à Justiça, mas a empresa teria se recusado a dar a informação, alegando que poderia provocar pânico na população. O MP tem apenas a numeração dos 130 bueiros que foram reformados em maio. Mas Rubim preferiu não divulgá-la, argumentando que ¿poderia ocorrer uma desvalorização dos endereços¿:

¿ Os bueiros estão identificados. Eles têm explodido. O equipamento é antigo. Se for contaminado por gás, vai haver explosões. O problema é muito sério.

O promotor Rubim explicou que a mesma ação judicial que deu origem ao TAC com a Light também exige reformas nas tubulações mais antigas da CEG. No entanto, diferentemente da concessionária de energia ¿ pressionada pela série de explosões de bueiros nos últimos meses ¿, a CEG preferiu continuar respondendo à ação na 4ª Vara Empresarial do Rio. A empresa alega que vem prestando todos os esclarecimentos sobre sua rede subterrânea e que, nos últimos 13 anos, investiu R$2,6 bilhões em manutenção, modernização e expansão do sistema. Em nota, a companhia informou que tem 600 caixas subterrâneas, nas quais não teria histórico de acidentes. ¿A CEG entende que não possui responsabilidade nos episódios de explosão de bueiros da concessionária de energia elétrica registrados desde 2010, posto que não foi encontrada nos locais a presença de gás natural¿, diz a nota.

A CEG garantiu ainda que não tem galerias ou rede compartilhadas com qualquer outra concessionária no Rio. Apesar disso, de acordo com o engenheiro elétrico Luiz Cosenza, da Câmara de Energia do Crea-RJ, mesmo que as galerias não sejam compartilhadas, num vazamento da rede da CEG, o gás pode se infiltrar por tubulações e pelo solo até as caixas subterrâneas mais próximas da rede da Light. Segundo ele, nos casos mais graves de explosões subterrâneas no Rio, é grande a probabilidade da presença de gás.

¿ É preciso definir uma solução para esse problema. Se for resolvida só a questão da Light, não vai adiantar. Vai continuar a da CEG. É fundamental a CEG antecipar seu cronograma de obras ¿ diz ele.

Para o engenheiro eletricista Estellito Rangel Júnior, que já fez palestras no Clube de Engenharia sobre bueiros, para uma galeria explodir é preciso haver uma centelha que provoque combustão no gás confinado. Ele explicou que somente o acúmulo de gás nas caixas subterrâneas não causaria explosões.

Enquanto isso, pelo segundo dia consecutivo, a Rua da Assembleia, entre a Avenida Rio Branco e Rua Uruguaiana, no Centro, permaneceu fechada ontem, para que técnicos pudessem verificar o motivo do escapamento de gás na rede subterrânea. Na tarde de segunda-feira, quatro bueiros da Light explodiram no local, deixando duas pessoas feridas. Na tarde de anteontem, um escapamento de gás nas galerias fez com que técnicos da CEG permanecessem no lugar para verificar o problema. Na manhã de ontem, o cheiro de gás ainda era forte na esquina das ruas da Assembleia e Gonçalves Dias (a um quarteirão do ponto da explosão).

De acordo com informações da CEG, os técnicos estavam no local para avaliar o motivo do escapamento de gás. As tampas dos bueiros ficaram abertas, segundo a Light. Em nota, a empresa informou que o trecho da rua permanece interditado a pedido de peritos da polícia. Ainda de acordo com a concessionária, técnicos seus entraram nas caixas subterrâneas e não encontraram anomalias que pudessem levar à explosão dos bueiros. A empresa informou ainda que todos os serviços foram realizados nas caixas subterrâneas da Rua Sete de Setembro e que o fornecimento de energia estava normalizado na área.

oglobo.com.br/rio