Título: Crise ajuda Dilma a se desfazer de mais uma herança maldita de Lula
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 07/07/2011, O País, p. 4

Com saída de ministro, presidente pode escolher alguém de sua confiança para o cargo

BRASÍLIA. A saída do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) do Ministério dos Transportes pode ser encarada como um alívio duplo para a presidente Dilma Rousseff. Além de reforçar junto à opinião pública a ideia de que agiu rapidamente para afastar suspeitas de que seu governo acoberta irregularidades feitas por aliados, a presidente viu nesta crise a possibilidade de, enfim, escolher alguém de sua confiança para o cargo.

Nos seus últimos dias no governo Dilma, o ex-ministro ficou acuado e ontem sequer foi ao ministério. De Dilma, teve um tratamento muito diferente do dispensado anteriormente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político no cargo.

Ao formar Ministério, Dilma queria Passos

Na formação de seu governo, Dilma não fez questão nenhuma de disfarçar sua preferência pela manutenção no Ministério dos Transportes de Paulo Sérgio Passos, que assumira a pasta interinamente, quando Nascimento se afastou para disputar o governo do Amazonas. Mas a presidente acabou forçada a aceitar a volta de Nascimento - que já havia sido ministro de Lula em outros dois períodos - porque era o nome do partido e também a preferência do ex-presidente.

Embora líderes e dirigentes do PT digam que o fato do senador petista João Pedro (AM) ser o suplente de Nascimento não influenciou na sua entrada no primeiro escalão de Dilma, isso fora decisivo na sua segunda nomeação para o Ministério de Lula, em março de 2007. E teria sido também fator de peso na sua terceira nomeação no início deste ano.

Suplente é companheiro de pescarias de Lula

Na eleição em que foi eleito senador, em 2006, Nascimento acertou pessoalmente com Lula que seu suplente seria João Pedro, amigo e companheiro de pescarias do ex-presidente.

Antes da publicação da reportagem da revista "Veja" que detonou a crise no comando do Ministério dos Transportes, Nascimento já vinha desagradando à presidente Dilma. Quando a crise estourou no fim de semana e as chefias da Valec e do Dnit caíram, o ministro permaneceu em Manaus. Dilma o chamou de volta imediatamente a Brasília, mas os dois só se reuniram domingo à noite.

Na última segunda-feira, o Planalto divulgou uma nota de apoio ao ministro, mas era uma manifestação fria. Nesse mesmo dia, Nascimento tentou se fortalecer e levou a seu gabinete alguns deputados e senadores, que também assinaram uma formal nota de apoio.

Ontem, finalmente, com a divulgação pelo GLOBO de que uma empresa de seu filho, Gustavo Morais Pereira, obteve um crescimento astronômico nos últimos anos, sua situação ficou insustentável.

O senador João Pedro não escondia ontem o abatimento de ter de deixar o cargo de senador mais uma vez, para que o titular da vaga assuma. Aos auxiliares do gabinete, disse que estava muito triste, mas que não iria ficar chorando por isso:

- Eu lamento profundamente! Afinal, Alfredo Nascimento é um representante da base governista e essa é uma crise do governo. Finalizo hoje um mandato que desempenhei com muito empenho, especialmente em defesa dos interesses do meu estado, o Amazonas - afirmou o suplente de senador.

João Pedro admitiu, contudo, que as denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes são graves e precisam ser devidamente apuradas:

- A presidente Dilma agiu de forma correta. Temos de dar essa satisfação para a sociedade.