Título: Adeus em 11 minutos
Autor: Araújo, Vera; Custódio, Aline; Amado, Guilherme
Fonte: O Globo, 08/07/2011, Rio, p. 14

Na presença de apenas 20 pessoas, menino Juan é enterrado em cova simples, numa cerimônia rápida e com forte esquema de segurança

INTEGRANTES DA ONG Rio de Paz estendem uma faixa junto ao Cristo, pedindo punição para os assassinos de Juan: a entidade também fez manifestação na Lapa e na Candelária

NO COLÉGIO onde Juan estudava, em Nova Iguaçu, alunos se reúnem numa homenagem ao menino: luto e oração

erme granderio@oglobo.com.br

Onze minutos e muito choro. Foi assim o enterro do menino Juan de Moraes, de 11 anos, no início da noite de ontem, no Cemitério Central de Nova Iguaçu. Muito abalada, a mãe do garoto, Rosineia Maria Moraes, acompanhou, ao lado de duas amigas, o sepultamento do filho numa cova simples. O pai de Juan, Alexandre da Silva Neves, cobriu o caixão com o agasalho de que o filho mais gostava. No fim, as cerca de 20 pessoas que estavam no cemitério rezaram um Pai-Nosso. Armados, agentes da Polícia Rodoviária Federal e da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), que faziam a escolta de Rosineia, também acompanharam a cerimônia. A chegada ao cemitério de dois veículos do 20º BPM (Mesquita), batalhão de onde são os policiais acusados pela família de ter tentado desaparecer com o corpo de Juan, causou constrangimento entre parentes e amigos.

¿ Desde o início, eu sabia que meu filho estava morto, porque vizinhos viram policiais colocando o Juan numa Patamo ¿ disse Alexandre.

Rosineia, que está no Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte, chegou sob forte proteção policial. O enterro foi pago pela Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos. Weslley, de 14 anos, irmão de Juan que foi baleado em 20 de junho, dia em que o menino desapareceu, não foi ao funeral.

O corpo de Juan foi achado no dia 30 de junho e identificado como sendo de uma menina. Só anteontem, após exames de DNA, a polícia admitiu o erro e informou tratar-se do cadáver do menino. Para hoje de manhã, está marcada a reconstituição do suposto tiroteio durante o qual Weslley e um jovem de 19 anos foram baleados na comunidade Danon, em Nova Iguaçu.

Beltrame admite que polícia errou

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, admitiu ontem que a polícia errou na condução do caso de Juan. Ele afirmou, porém, que os responsáveis vão pagar pelo crime:

¿ Quero deixar muito claro a toda a sociedade que qualquer servidor da Secretaria de Segurança que estiver envolvido em desvio, seja de que natureza for, vai ser punido exemplarmente, como mais de mil já foram ao longo destes quatro anos. Mesmo que a gente erre, como a polícia errou, essas pessoas vão ser responsabilizadas por esse erro. Além disso, se esses policiais tiverem qualquer tipo de participação nesse fato horrendo, vão ser punidos exemplarmente.

A indignação com o caso Juan chegou até o Corcovado, onde a ONG Rio de Paz estendeu ontem uma faixa com a pergunta ¿Quem matou Juan?¿. À tarde, a mesma faixa passou pelos Arcos da Lapa e pela Candelária. Na Escola Municipal Leopoldina Machado Barbosa de Barros, em Nova Iguaçu, onde Juan cursava o 4º ano, cerca de 250 alunos prestaram uma homenagem a ele. Além de exibir cartazes, os estudantes fizeram uma oração e um minuto de silêncio.

* Do Extra