Título: Passos pediu verba complementar
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 08/07/2011, O País, p. 10

Recursos eram para completar orçamentos onde TCU identificou irregularidades

Roberto Maltchik, Gerson Camarotti e Maria Lima

BRASÍLIA.Um mês após assumir interinamente o Ministério dos Transportes, em 2010, Paulo Sérgio Passos, novamente no cargo como interino, pediu ao Congresso R$78 milhões para complementar o orçamento de obras com irregularidades graves detectadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Esses empreendimentos chegaram a constar da lista do TCU como obras que deveriam ser paralisadas. O pedido foi levado ao Congresso em 20 de abril de 2011, depois que Alfredo Nascimento se afastou do comando do ministério para concorrer ao governo de Amazonas.

A presidente Dilma Rousseff considera Passos o nome ideal para comandar a pasta, mas esbarra na resistência do Partido da República (PR).

Na ocasião, o Ministério dos Transportes e outros três órgãos, além da Presidência da República, solicitaram ao Congresso créditos suplementares de R$3,47 bilhões, dos quais R$2,3 bilhões destinados aos Transportes. Da extensa lista de empreendimentos beneficiados, destacam-se a BR-317 (AM/AC), BR-265 (MG) e BR-101 (RJ), cujas irregularidades chegaram a ameaçar a continuidade dos trabalhos.

De acordo com o projeto de crédito suplementar, só a construção do entroncamento da BR-265 com a BR-491 e a MG-170, em São Sebastião do Paraíso, receberam R$40 milhões. A BR-101, entre Santa Cruz e Mangaratiba (RJ), R$20 milhões. No caso da BR-317, em Boca do Acre (AM), foram mais R$18 milhões.

Nascimento usa liberaçãode recursos como defesa

A liberação de recursos para essas obras será um dos argumentos que Nascimento, que reassumiu seu mandato de senador, pretende usar para se defender no Congresso. Em reunião ontem com o senador Blairo Maggi (PR-MT) e com os líderes do PR na Câmara, Lincon Portela (MG), e no Senado, Magno Malta (ES), Nascimento disse que o ordenador das despesas desses empreendimentos teria sido seu substituto interino.

Ainda teria afirmado que Dilma foi surpreendida por despesas assumidas enquanto ela e o próprio Nascimento participavam da campanha eleitoral.

- O Nascimento disse que esse negócio de ordenar despesas não foi com ele. Ele saiu para fazer campanha e, quando voltou, as despesas já estavam ordenadas - contou um participantes da reunião.

Ao GLOBO, o Dnit informou que "os indícios de irregularidades apontados em relatórios do TCU são analisados pela autarquia e discutidos caso a caso, mediante apresentação de recursos e justificativas específicas. As obras mencionadas ainda são objeto de tratativas entre o Dnit e o TCU, visando sua solução", diz o órgão.