Título: Manda quem pode e obedece quem tem juízo
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 08/07/2011, O País, p. 9

COLISÃO NOS TRANSPORTES

Pagot, que teve afastamento do Dnit determinado por Dilma, envia recados de que agia por ordens superiores

BRASÍLIA. O diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, mandou ontem um recado direto ao governo e disse que tudo o que fez no comando do órgão foi realizado conforme as "instruções recebidas". Depois de ter seu afastamento do comando do órgão determinado pela presidente Dilma Rousseff, Pagot entrou de férias, recusando-se a se afastar oficialmente das funções. Ao GLOBO, ele antecipou ontem o tom que dará a seu depoimento na Comissão de Infraestrutura do Senado, marcado para terça-feira. Na quarta, deve ir à Câmara.

- Sou da velha escola: manda quem pode e obedece quem tem juízo. Tudo o que foi feito no Dnit foi dentro da legalidade e de acordo com as instruções recebidas - avisou Pagot, em rápida conversa telefônica, sugerindo que todas as decisões do órgão eram de conhecimento de superiores.

Sem querer falar mais, ele explicou que manteria a palavra dada ao Palácio do Planalto de não conceder entrevistas antes de seu depoimento. No núcleo do governo, há forte preocupação com a fala de Pagot. Segundo interlocutores do diretor do Dnit, ele está "extremamente abalado" com as denúncias de irregularidades no órgão envolvendo seu nome.

A sondagem feita pela presidente Dilma Rousseff para o senador Blairo Maggi (PR-MT) assumir o Ministério dos Transportes teve como objetivo encerrar a crise no partido e, ao mesmo tempo, conter Pagot de qualquer denúncia envolvendo o governo. Segundo senadores do PR que estiveram com Pagot, numa das reuniões dos últimos dias ele teria desabafado que aditivos contratuais em obras rodoviárias foram solicitados pelo então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Ao GLOBO, ele negou que tenha feito essa afirmação e disse que "achou um absurdo" que senadores do partido tenham divulgado esta versão. Para o Planalto, ao envolver ministros petistas, Pagot fez uma espécie de ameaça velada. A maior preocupação é que ele saia do governo atirando, o que poderia dar munição suficiente para a instalação da CPI do Dnit no Senado.

Em mais uma demonstração de que não está fora do cargo - ao contrário do que já foi dito claramente no Planalto -, Pagot disse que está de férias, mas que aproveitou para vistoriar ontem, informalmente, uma estrada cuja obras foram concluídas há seis meses, nos arredores do DF.

Assessores do governo viram no gesto de Pagot de se apresentar espontaneamente para depor em comissões da Câmara e do Senado uma forma de tentar intimidar o Planalto. Palacianos chegaram a pedir ao senador Blairo Maggi que monitorasse o seu afilhado político.

- O Pagot está ferido. Ele chegou a falar que sua família ficou muito abalada com o episódio. Por isso, neste momento, a reação dele é imprevisível - disse um senador do PR.

Ontem, ao aprovar o requerimento convidando Pagot para depor na Comissão de Infraestrutura do Senado (CI), a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) leu cartas enviadas por ele a ela e ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), manifestando seu interesse em falar sobre suas atividades no Dnit, "cargo que ocupo com toda dedicação e compromisso".

Ele também já tinha enviado carta semelhante para deputados, que decidiram fazer uma sessão conjunta de quatro comissões para ouvir Pagot. No Senado, a sessão será conjunta com a Comissão de Fiscalização e Controle (CMFC).