Título: Olho por olho
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 17/08/2009, Política, p. 4

Se o PT prefere seguir a onda das pesquisas na crise do Senado, contra Sarney, os peemedebistas, da sua parte, sentem-se livres para atender outro desejo do eleitor nesta fase da sucessão presidencial, na contramão do que desejam os petistas. E não será correndo sem escalas para os braços da oposição. Vão apostar primeiro na profusão de candidatos a presidente da República, um caminho diferente do que deseja Lula¿

Caio Gomez/CB/D.A Press

A cada pesquisa de opinião, a maioria dos políticos entra em pânico, por causa da vontade do eleitor de apontar para um rumo diferente do que eles pretendem fazer. Ontem, quando os mais observadores dentro PT e do PMDB avaliaram os resultados mais recentes, eles guardaram duas informações básicas no cenário de hoje: o eleitor defende o afastamento de José Sarney (PMDB-AP) da Presidência do Senado. E, no quesito sucessão presidencial, não quer saber do mano a mano, governo versus oposição, pretendido por Lula.

Mas vamos por partes: No caso do Senado, o instituto Datafolha mostrou que 74% defendem o afastamento de Sarney, divididos entre renúncia e licença temporária, e 78% têm alguma informação sobre a crise, ou seja, o eleitor não é alienado.

Para os peemedebistas, ficou claro por que o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), deseja o afastamento de Sarney, nem que seja só um pouquinho. Chegou ao ponto de ameaçar largar a liderança petista só para não fazer o que deseja o PMDB ¿ colocar no Conselho de Ética gente disposta a votar com Sarney.

O comportamento dele só fez reforçar entre os peemedebistas o sentimento de que o PT não é o companheiro que está ao lado para o que der e vier, tipo pau para toda obra, como gostariam os comandantes do partido de Sarney, inclusive os deputados.

O troco do PMDB para esse gesto está literalmente nas entrelinhas da pesquisa do Datafolha: se o PT prefere seguir a onda das pesquisas na crise do Senado, contra Sarney, os peemedebistas, da sua parte, sentem-se livres para atender outro desejo do eleitor nesta fase da sucessão presidencial, na contramão do que desejam os petistas. E não será correndo sem escalas para os braços da oposição. Vão apostar primeiro na profusão de candidatos a presidente da República, um caminho diferente do que deseja Lula.

O que leva os políticos peemedebistas a esse raciocínio é um quadrinho meio escondido da pesquisa do Datafolha, para muitos, a prova de que o eleitor rejeita a eleição plebiscitária defendida pelo presidente. Lula gostaria de um cenário governo versus oposição, para decidir o pleito no primeiro turno. Mas no cenário numa disputa entre os cinco nomes mais conhecidos (o quadro não inclui Marina Silva), todos têm acima de 10%: José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT), Ciro Gomes (PSB), Heloísa Helena (PSol) e o tucano Aécio Neves.

Lula faz de tudo para que isso não ocorra. Mas, quanto mais o PT forçar a mão nos estados e, por tabela, no Senado, mais distante fica a eleição plebiscitária sonhada pelo presidente e mais os peemedebistas vão trabalhar para derrubar a floresta de partidos que Lula gostaria de ver ao lado de Dilma.

A relação entre os dois partidos, demonstrada em reportagem do Correio na última semana, vai de mal a pior. Nos estados, a má vontade entre PT e PMDB predomina e existe cheiro de um movimento articulado para o desembarque. Mantido o cenário de hoje, o PMDB não vai fechar com Dilma Rousseff.

O presidente Lula ¿ que continua reinando em berço esplêndido, enxerga longe, mas não será candidato ¿ bem que tenta segurar as árvores, sem as quais Dilma não terá oxigênio. Ele vai entregar ao PMDB a presidência da BR Distribuidora.

Tenta, ainda, segurar ao seu lado o PSB e o PCdoB. Ele sabe que PTB, PR e PP estão hoje no governo, mas de olho comprido para a campanha alheia. Por isso, Lula quer tirar Ciro da campanha presidencial do primeiro turno. Só que os votos de Ciro hoje migram mais para o PSDB do que para Dilma.

Ainda não foi pesquisado como seria o comportamento do eleitor se Ciro for vice de Dilma, o plano B de Lula para o seu ex-ministro e hoje muito perto de se tornar o plano A. Até porque, ainda que Ciro transfira o título para São Paulo e seja candidato a governador, como o presidente gostaria, não será um movimento natural. E tudo o que soa forçado, o eleitor tende a rejeitar. Pelo quadro de hoje, o cidadão está muito longe de querer o mesmo que desejam o presidente e os políticos.