Título: Inadimplência sobe 22,3% no primeiro semestre, maior alta em nove anos
Autor: Gomes, Wagner; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 12/07/2011, Economia, p. 20

Mercado também volta a elevar a projeção para a inflação deste ano

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A inadimplência do consumidor subiu 22,3% no primeiro semestre de 2011, na comparação com o mesmo período de 2010. Foi a maior alta dos últimos nove anos, de acordo com o indicador Serasa Experian. Entre maio e junho, a inadimplência cresceu 7,9%. Segundo Luís Rabi, economista da empresa, o aumento reflete os efeitos da política monetária mais restritiva, com elevação dos juros e aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), para tentar segurar os índices de inflação.

A redução no valor médio das dívidas não bancárias, que passou de R$385,50 para R$307,54 (queda de 20,2%), indica que o consumidor de baixa renda pode ser o principal responsável pelo aumento da inadimplência. O economista Wermesom França, da LCA Consultores, disse que o consumidor da classe D pode ter abusado dos empréstimos e agora não estaria conseguindo quitar suas dívidas.

- Faltou experiência aos consumidores de baixa renda no controle financeiro. Muitos contaram com aumento maior do salário mínimo, que acabou não acontecendo - disse França.

Consumidor de baixa renda poderá ser monitorado

O economista afirmou que as medidas do Banco Central (BC) mostram preocupação com a permanência desse quadro mais para a frente. O BC, que vem aumentando sistematicamente os juros, não confirma, mas deve passar a monitorar os pequenos tomadores de crédito. Segundo economistas, o banco passará a fiscalizar os créditos com valor a partir de R$1 mil para evitar um risco maior de inadimplência, principalmente em instituições financeiras de porte menor.

De acordo com o indicador Serasa, o valor médio dos cheques sem fundos aumentou 7% no primeiro semestre, passando de R$1.227,82 para R$1.313,97. O valor dos títulos protestados aumentou ainda mais: 14,9%, de R$1.156,29 para R$1.328,50. A boa notícia ficou para o valor das dívidas com os bancos, que teve queda de 2% (para R$1.307,90).

- As lojas intensificaram o uso do cheque pré-datado para contornar os custos com cartão de crédito e para aliviar o consumidor com a alta do IOF - disse Luís Rabi.

Rabi disse que a inadimplência deve continuar subindo no segundo semestre, mas não com a mesma intensidade. A taxa de inadimplência, que encerrou o ano passado no patamar de 5,7%, segundo o Banco Central, deve ficar em torno de 7%. Trata-se de uma alta significativa, mas ainda menor do que a registrada em 2009, de 7,7%, ainda durante a crise econômica.

O mercado elevou suas previsões para a inflação em 2011 e 2012 e, assim, consolidou um cenário de maior aperto monetário neste ano, segundo a pesquisa semanal Focus divulgada ontem pelo BC. Após nove semanas de queda, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - que orienta a meta de inflação, cujo centro é de 4,5%, com variação de dois pontos para mais ou menos - voltou a subir. Em 2011, de 6,15% para 6,31%, e em 2012, de 5,10% para 5,20%.

Com isso, analistas do mercado passaram a prever mais duas elevações da Taxa Selic este ano. Os juros deverão subir na reunião da próxima semana e na de agosto, em 0,25 ponto percentual cada, dos atuais 12,25% para 12,75% ao ano. Até semana passada, os analistas previam juros a 12,5%.

Segundo o economista Elson Teles, da Máxima Asset, o aumento nas projeções de inflação está relacionado à variação do IPCA em junho, de 0,16%, acima da expectativa. Mas também há resistência na queda dos preços, apesar da alta nos juros desde o início deste ano - o que pode exigir sacrifícios maiores.