Título: Estatal tem mais funcionários no Rio do que em Brasília, onde fica a sede
Autor: Alvarez, Regina; Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 10/07/2011, O País, p. 4

Relatório da CGU mostra falhas em convênios e gastos altos com locomoção

BRASÍLIA. As auditorias internas realizadas nas contas da Valec identificaram sérios problemas de gestão como, por exemplo, um excesso de funcionários nas áreas administrativas em prejuízo das áreas-fim, como a fiscalização das obras, por exemplo. Relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) de 2010 destaca também que a empresa mantinha mais funcionários no escritório do Rio do que na sede em Brasília e pagava diárias para o deslocamento desses funcionários. Entre 2007 e 2010, os gastos com diárias, passagens e despesas de locomoção da Valec pularam de R$1,2 milhão para R$4,1 milhões, crescimento de 241%.

Em 2009, eram 103 funcionários nas chamadas áreas-meio e só 41 nas áreas-fins. "Esta constatação evidencia o desequilíbrio, indo de encontro com o relato da Valec quanto à escassez de pessoal nas frentes de serviço, tratadas como justificativas das deficiências na fiscalização das obras", diz o relatório da auditoria da CGU.

As críticas à gestão e organização da Valec foram tão severas que a empresa se viu obrigada a contratar uma consultoria privada com o objetivo de "reestruturar a governança". Para isso, lançou um edital em maio de 2009, que resultou na contratação da Deloitte Consultoria, empresa especializada em diagnosticar práticas de gestão e apontar soluções.

As ações esperadas, segundo relatório da auditoria, incluíam a garantia de maior eficiência dos "controles da Valec; definir o suporte tecnológico necessário; rever o modelo de gestão de pessoas, com o desenho de políticas e diretrizes gerais de gestão de recursos humanos". E conclui o relatório da CGU: "Observou que as diretorias de Planejamento, de Administração e especialmente de Engenharia não estavam sendo estrategicamente dirigidas".

A Deloitte recebeu R$2 milhões pelo serviço, que, segundo a própria consultoria, foi entregue conforme o edital e dentro do prazo programado. Mas não divulga o que fez. A Valec foi o único órgão público federal que se valeu dos serviços dessa consultoria nos últimos três anos. A contratada não informa que tipo de diagnóstico foi apresentado, por razões de sigilo profissional, nem se o cliente atendeu às recomendações propostas.

Nas auditorias da CGU foram também identificadas falhas em convênios firmados pela Valec para o repasse de recursos a terceiros, as chamadas transferências voluntárias, que são recursos a fundo perdido (que não retornam aos cofres públicos), mas exigem comprovação dos serviços ou obras por meio de prestação de contas.

Um exemplo citado é o repasse de R$2 milhões ao governo do Maranhão, em 2003, por meio de convênio, que teve a prestação de contas rejeitada. O estado teria que devolver R$1,1 milhão, mas nenhuma providência havia sido tomada até a análise das contas de 2009. A Valec não informou se após essa data o problema foi sanado.