Título: Nascimento tem carreira repleta de acusações
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 10/07/2011, O País, p. 9

De prefeito biônico a cacique político do Amazonas, ex-ministro ainda enfrenta processo de caixa 2 no TSE

MANAUS. Depois de sobreviver sete anos no comando do Ministério dos Transportes, o ex-ministro Alfredo Nascimento caiu em meio a uma onda de denúncias de irregularidades contra ele próprio, familiares e assessores. A ficha corrida do político amazonense é extensa e todas as cifras, seja sobre o patrimônio pessoal e da família ou de supostos desvios de recursos, estão sempre na casa de muitos milhões de reais. Contra o ex-ministro pesam denúncias de má administração e corrupção desde os tempos em que iniciou uma meteórica carreira política como prefeito biônico (indicado) de Manaus, no final da década de 1980. Ele é alvo de acusações que vão da compra de votos a desvio de dinheiro público.

Nascimento renunciou ao cargo de ministro depois que a "Veja" revelou superfaturamento e cobrança de propina em contratos de sua pasta. O GLOBO mostrou que o patrimônio de uma empresa do filho dele, de 27 anos, aumentou 86.000% em menos de três anos.

O ex-ministro tem contas a acertar com o passado. Enfrenta um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no qual é acusado de fazer caixa dois e campanha eleitoral fora do prazo, ano passado, quando disputou o governo do Amazonas e perdeu para o ex-aliado Omar Aziz (PMN).

O relator do caso é o ministro Marco Aurélio Mello, que deve apreciar a questão depois do recesso do Judiciário. Nascimento pode ser punido com até oito anos de perda dos direitos políticos. Há duas outras representações do Ministério Público por compra de votos.

Nascimento chegou a ser alvo de outra acusação do Ministério Público Federal sobre compra de votos na eleição de 2006, quando aliados seus foram flagrados distribuindo gasolina e santinhos do então candidato ao Senado, em Manacapuru. Mas o caso acabou desconsiderado pelo TSE porque o MP teria perdido prazo de recursos.

- Ele usou a força do dinheiro para comprar o mandato de senador - afirma o deputado Pauderney Havelino (DEM-AM), que perdeu a vaga para Nascimento.

Antes de chegar a Brasília como senador, Nascimento foi alvo de CPI da Câmara de Vereadores de Manaus, em 2004, último ano de seu mandato como prefeito. Um dos vereadores, Francisco Praciano (PT), hoje deputado federal, sugeriu o indiciamento dele por desvio de dinheiro.

Nascimento foi acusado de envolvimento na montagem de uma planilha que resultava na cobrança de R$0,20 a mais de cada passagem contabilizada por empresas de transporte coletivo. A "caixinha" foi calculada em mais de R$ 280 milhões.

O relatório da CPI sugeriu que o MP apurasse as responsabilidades administrativas e indiciasse criminalmente Nascimento e o então presidente da Empresa de Transportes Pedro Carvalho "em razão de tais agentes terem sido responsáveis pela elaboração e aplicação de planilhas de cálculo de tarifa que lesaram a população de Manaus em cerca de R$280 milhões". Mais tarde, a Justiça derrubou o relatório.

O ex-ministro é acusado ainda de desperdiçar mais de R$30 milhões com um projeto de vias expressas para ônibus em Manaus. O projeto, considerado inviável, foi abandonado pelo seu sucessor.

- É curioso que, mesmo depois disso, ele tenha sido nomeado ministro dos Transportes - ironiza o deputado estadual Luiz Castro (PPS).

Nascimento nasceu no Rio Grande do Norte, em 1952, e foi para Manaus no fim dos anos 1970 como cabo da Aeronáutica. Formado em Letras e Matemática pela Universidade Federal do Amazonas, com especialização em Administração de Pessoal e Auditoria em Recursos Humanos pela Fundação Getulio Vargas, foi fazer carreira no setor público.

Depois de nomeado por Amazonino Mendes como interventor na prefeitura, em 1988, a carreira política e financeira deslanchou. Foi superintendente da Suframa e secretário de Fazenda e de Administração do governo Amazonino (1987-1990). Elegeu-se prefeito de Manaus em 1996, reeleito em 2000, se tornando um dos caciques políticos do Amazonas.

Até perder o cargo de ministro, Nascimento era o principal líder político do Amazonas, e o filho, Gustavo, um dos homens mais ricos do estado. Mas, desde então, a roda da fortuna começou a girar no sentido inverso.