Título: 'Juiz das fusões' agora enfrenta tsunamis
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 10/07/2011, Economia, p. 31

Ex-surfista, presidente do Cade diz que população não tem noção de como o mercado concentrado afeta sua vida

BRASÍLIA. Ao tomar posse na presidência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em maio deste ano, Fernando Furlan, de 42 anos, relembrou sua adolescência em Florianópolis, onde gostava de "pegar onda". Ao ouvir o discurso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, rebateu: "pois agora você vai pegar é tsunamis". E as ondas gigantes estão aparecendo na forma de grandes fusões de empresas como Sadia e Perdigão, Pão de Açúcar e Carrefour. Caberá ao Cade decidir o futuro dessas operações.

Consumo em alta da classe média estimula fusão

Segundo advogados e colegas de governo, Furlan é um negociador hábil que consegue fazer valer suas ideias sem bater de frente. Também é rígido no cumprimento das normas que regem o funcionamento da autarquia, composta por outros seis conselheiros, um procurador-geral e dois representantes do Ministério Público. Quem o conhece diz que um pouco dessa postura se deve à sua proximidade com a Sadia.

Ele é primo do ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, da família que criou a Sadia. Ele está, assim, impedido de participar do julgamento da empresa com a Perdigão e se retira do plenário quando o assunto é tratado. Mas tem uma opinião geral sobre as grandes fusões e afirma que é natural que a lei aplicada a grandes concentrações exija restrições:

- A classe média cresceu e está consumindo mais. Isso se reflete no interesse das empresas, que querem ganhar escala e ter mais presença. Isso tornou mais comum a realização de grandes fusões, com grandes concentrações.

Para ele, a população em geral ainda não entende quando a concorrência afeta em sua vida. Por isso, a visibilidade do Cade pode ser uma boa chance para o trabalho das autoridades antitruste se tornar mais conhecido.