Título: Preço tem a ver com mercado, diz presidente da BRF
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 14/07/2011, Economia, p. 23

Executivo destaca que a decisão manteve a companhia com o status de terceira maior exportadora do país

SÃO PAULO. O presidente da BRF-Brasil Foods, José Antônio Fay, não deu garantia de que a entrada de um novo competidor no mercado vá se refletir em uma redução nos preços dos produtos da empresa. Segundo o executivo, "preço tem a ver com mercado". Ele acrescentou que o comprador dos ativos (fábricas, centros de distribuição e marcas) da companhia que serão postos à venda tem o objetivo de atender a uma demanda do Cade para a criação de um novo competidor no setor de carnes e produtos processados.

- Estamos criando uma noiva para que ela possa casar. Ainda não sabemos com quem - brincou Fay, durante entrevista, lembrando que a BRF permanece como a terceira maior exportadora brasileira. A decisão do Cade preserva a força da empresa no exterior e cria competição doméstica.

Redução de 11% no volume de alimentos produzidos

De acordo com a BRF, o conjunto de marcas e fábricas que terão que ser vendidas, mais a suspensão temporária da marca Perdigão no mercado por prazos que variam de três a cinco anos, terão um impacto negativo de R$3 bilhões nos negócios da companhia em 2012, quando começa a valer o acordo com o Cade. No total, deixarão de ser produzidas 730 mil toneladas de alimentos, ou 11,6% do volume, o que representa uma redução de 13,1% na receita operacional líquida de 2010, que foi de R$22,7 bilhões.

Dos R$3 bilhões, R$1,7 bilhão corresponderá ao faturamento dos ativos que serão colocados à venda. O "lado bom", segundo Fay, é que o resultado da venda dos ativos reforçará o caixa.

- Estamos com o caixa saudável e a venda desses ativos vai reforçar ainda mais a nossa situação financeira. Estamos vendendo mais do que marcas, mas negócios. E esse dinheiro será reinvestido não sei se aqui ou lá fora - disse ele, salientando que o preço para os compradores será o mais alto possível.

O Cade estabeleceu um prazo para a realização da venda dos ativos, que começa em 2012, mas que impede a sua divulgação para não dar vantagem aos compradores. A ideia, que ainda está sendo costurada, é oferecer a cadeia completa de ativos e, se houver problemas, a empresa volta a consultar o Cade para resolver possíveis pendências. O acordo, que se arrastou nos últimos 40 dias, foi fechado às 10h27m de ontem e, segundo Fay, atendeu às necessidades da BRF e as especificações antitruste exigidas pelo Cade.

- No final do processo, foi muito bom para todos. É o tipo de acordo que todo mundo quer fazer - elogiou Fay.

Categorias de Perdigão e Batavo podem ir para Sadia

Embora a empresa esteja impedida de usar ou criar novas marcas por um período de cinco anos, Fay não descarta a utilização de algumas categorias de produtos da Perdigão e da Batavo, suspensas pelo Cade, para engordar o portfólio da Sadia.

- Os produtos vão continuar chegando na casa do consumidor, mas sem a marca Perdigão. Parte pode vir para a Sadia.

O executivo também destacou as medidas que vão proteger os funcionários da empresas que serão vendidas. Uma das cláusulas do acordo estabelece a obrigatoriedade de que o comprador dos ativos mantenha o nível de empregos pelo prazo mínimo de seis meses. No caso dos integrados, responsáveis pela criação e fornecimento dos animais (aves e suínos) para os abatedouros que serão colocados à venda, o acordo prevê a venda também da carteira de contratos da BRF. Ou seja, quem comprar o frigorífico, adquire os contratos com os produtores rurais. Sobre possíveis interessados, Fay brincou:

- Só posso dizer que o número de amigos subiu muito nos últimos dias.