Título: Decisão de conselheiros não foi unânime
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 14/07/2011, Economia, p. 24

Apesar das restrições impostas agora, relator da fusão manteve-se contrário, sem mudar o voto dado no mês passado

BRASÍLIA. A BRF-Brasil Foods conseguiu aprovar a união de Sadia e Perdigão, mas, mesmo abrindo mão de 30% de sua capacidade de produção no mercado doméstico, não conseguiu arrancar unanimidade do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O relator do processo de fusão, Carlos Ragazzo, poderia reformar seu voto de quatro semanas atrás, mas manteve ontem sua posição contrária ao negócio. Ele destacou que a única concorrente da Sadia continua sendo a Perdigão e vice-versa e, por isso, não crê que que o acordo atenue a concentração de mercado.

- A suspensão da Perdigão é heterodoxa e pode ou não dar certo. Nesse momento, a análise indica que não vai dar certo. A Sadia vai ganhar os consumidores - disse Ragazzo, acrescentando: - Certamente a (nova) proposta é muito maior que a que me foi apresentada. A pergunta é: Ela é suficiente? Vamos saber isso em 5 anos. Eu mantenho meu voto.

Apesar de sua posição, foi Ragazzo quem viabilizou um acordo que tornasse o ato de concentração possível. Isso porque, ao rejeitá-lo, tornou uma negociação ampla e profunda a única opção da BRF para aprovar a fusão, especialmente em tão curto prazo, mudando radicalmente de discurso.

Até o voto de 500 páginas de Ragazzo - que chegou a classificar como ridícula a participação de mercado de uma das empresas que Sadia e Perdigão propuseram vender inicialmente - ambas defendiam que os ganhos gerados para a economia brasileira com a fusão eram suficientes para que ela fosse aprovada sem restrições. Elas também inundaram o Cade com pareceres técnicos (foram mais de 20) com o objetivo de adiar a conclusão do processo.

Numa leitura que levou cerca de cinco horas, Ragazzo criticou duramente as empresas e rejeitou o ato de concentração, afirmando que ele tinha forte potencial de prejudicar a concorrência e os consumidores. A concentração em alguns mercados chegava a mais de 80%.