Título: Ideli afirma que governo não teme Pagot
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 12/07/2011, O País, p. 3

Ministra minimiza denúncia de participação do Planejamento em aditivos

Chico de Gois, Luiza Damé e Adriana Vasconcelos*

BRASÍLIA. Depois de ameaças veladas de que a crise no Ministério dos Transportes poderia cair no colo do Palácio do Planalto e envolver outros colaboradores da presidente Dilma Rousseff, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) negou ontem que o governo tema o depoimento que o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, fará hoje, às 9h no Senado e amanhã, na Câmara. Ela minimizou a participação do Ministério do Planejamento nos aditivos de contratos feitos pelo órgão vinculado ao Ministério dos Transportes - Pagot estaria dizendo que o ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, teria pedido alguns desses aditivos.

Ao ser perguntada se o governo tem medo de Pagot, Ideli respondeu:

- Ele (governo) tem medo do quê? O Pagot cumpria suas responsabilidades, irá falar conforme sua consciência. Portanto, da nossa parte, não há qualquer tipo de preocupação.

Ela afirmou que aditivos são comuns em obras, mas devem respeitar os limites de 25%. Acima disso, "só em casos excepcionais".

Ao responder à pergunta se o governo entendia que o PR está colocando a faca no pescoço do Planalto, Ideli negou:

- Eu não tenho o entendimento dessa interpretação que você deu. O Planejamento define as grandes diretrizes de orçamento, de lei de diretrizes orçamentárias, e nunca entra no detalhe do que cada ministério vai executar. Isso é responsabilidade de cada um dos ministérios.

Pagot entrou de férias semana passada, após a presidente Dilma recomendar seu afastamento do Dnit, por causa de denúncias de que servidores do órgão e da Valec (estatal das ferrovias) cobrariam propina para direcionar licitações ou para fazer aditivos nos contratos.

Desde então, Pagot manda recados de que atuava por orientação de outros, inclusive do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, e da atual titular do pasta, Miriam Belchior.

Ontem à tarde, no Congresso, os governistas respiravam mais aliviados, diante de relatos de que "Pagot está mais calmo".

- Achei o Pagot mais tranquilo hoje (ontem) - disse o senador Clésio Andrade (PR-MG).

O senador Blairo Maggi havia dito mais cedo que o governo não tinha o que temer, mas essa certeza não se tinha à noite, após a confirmação de Paulo Sérgio Passos nos Transportes, sem que o PR tivesse sido avisado antecipadamente.

- O Pagot é militar. É metódico, tem tudo na cabeça. A oposição está no papel dela. A orientação é que ele responda tudo - disse Blairo:

- Mandar o Pagot ficar mais calmo? E eu virei "maracujina" agora?

Alguns líderes da base aliada, porém, advertem que numa audiência tão aguardada como a de Pagot, o governo não tem como controlar tudo. A preocupação é que Pagot acabe caindo nas provocações da oposição. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse esperar que Pagot dê respostas técnicas.

- Ele deverá falar sobre como esses contratos eram licitados - disse Jucá.

colaborou Cristiane Jungblut