Título: Dilma efetiva ministro interino
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 12/07/2011, O País, p. 3

PR se diz traído pela presidente, que manteve Paulo Sérgio Passos nos Transportes

Pelo menos parte da cúpula do PR foi surpreendida e alguns integrantes do partido se declararam traídos ao saber, pela imprensa, que a presidente Dilma Rousseff estava efetivando, no início da noite de ontem, o interino Paulo Sérgio Passos como o titular no Ministério dos Transportes. Menos de uma hora antes, ela conversara com o senador Blairo Maggi (PR-MT) por telefone, quando ele recusou formalmente o convite para assumir o mesmo cargo. Nessa conversa, definida por Blairo como "seca", a presidente não avisou que em seguida confirmaria, por meio de nota curta e formal, o nome do novo ministro. O PR, segundo Maggi, se reuniria amanhã para discutir outros nomes para o cargo.

Ainda que desagrade ao PR, que preferia um nome político para o lugar de Alfredo Nascimento - que ficou fragilizado depois de denúncias da "Veja" de cobrança de propinas em contratos do Dnit e foi forçado a pedir demissão após publicação, pelo GLOBO, de que a empresa de seu filho cresceu mais de 86.000% em poucos anos -, o partido não poderá reclamar nem criticar o novo ministro. Passos foi secretário-executivo dos Transportes nos últimos anos, em constante parceria com o PR. Da mesma forma que a ele não interessa criticar gestões passadas.

Ontem à noite, no momento em que o Planalto anuniava oficialmente o nome de Passos como o novo titular da pasta, o líder do PR na Câmara, deputado Lincoln Portela (MG), demonstrou surpresa com a notícia:

- Não estou sabendo de nada. A presidente decide as coisas. Então, cumpra-se. Vamos tocar para a frente. Somos base e continuaremos base. Acreditamos no projeto do governo Dilma.

"O partido não se reuniu para deliberar"

Luciano Castro (RR), ex-líder do partido, também foi surpreendido. Um dos nomes cotados pela legenda para o lugar de Nascimento, ele teve um longo encontro à tarde com o ministro Paulo Sérgio Passos. Na conversa, os dois falaram sobre os problemas da pasta, mas Passos não falou sobre o convite da presidente.

- O partido não se reuniu para deliberar qualquer nome. A previsão era que isso acontecesse amanhã (quarta-feira) - disse Castro.

Pouco antes, Blairo Maggi também havia dito que o partido só iria decidir sobre novo nome a oferecer à presidente amanhã, quarta-feira.

- Só vamos decidir isso na quarta-feira, depois dos dois depoimentos do Pagot. Temos que avaliar inclusive se o PR vai continuar com o cargo ou não. Não é questão se o Pagot vai fazer um estrago. É o cronograma. É preciso deixar as coisas se acalmarem para se ter um pouco de racionalidade - disse Blairo, no meio da tarde.

No final da tarde, na conversa por telefone com Blairo, a presidente Dilma nada disse sobre sua disposição de efetivar o interino no cargo. Ao retornar ao plenário do Senado para contar aos jornalistas o telefonema, fora informado que a presidente convidaria Passos:

- Na conversa, ela não me deu essa garantia de que o ministro seria do PR. Foi uma conversa seca!

Blairo ainda acrescentou:

- A programação anterior era de nos reunirmos na quarta-feira para discutir outro nome. A não ser que o PR resolva se reunir amanhã (terça-feira) cedo e mude essa programação.

Um outro integrante do PR, preferindo o anonimato, disse que o mínimo que a presidente deveria ter feito era conversar com o partido:

- Pelo menos por consideração! Fomos surpreendidos.

Segundo assessores, a presidente aproveitou o momento de extrema fragilidade do PR para impor um nome de sua confiança no Ministério dos Transportes. Com a carência de nomes do PR e o temor de que novos indicados virassem alvos de novas investigações, o partido estava cauteloso. E alguns dos seus senadores, como Clésio Andrade (MG) e Magno Malta (ES), já defendiam o nome de Passos para o lugar de Nascimento. Magno disse, no início da tarde, que parte do PR defendia a efetivação de Passos e que ele próprio faria essa defesa pública hoje.

No convite que fez, Dilma teria sido enfática ao afirmar que Passos teria que fazer mudanças significativas nas estruturas da pasta. Nos últimos dias, a presidente foi informada que até reunião de empreiteiros costumava ocorrer no ministério. Muitos integrantes do PR já estavam preocupados com a determinação de Dilma em fazer uma intervenção na pasta.

Para não aceitar o convite, Blairo alegou conflitos de interesses, já que o grupo empresarial André Maggi, de sua propriedade, tem negócios com o governo. Mas, segundo interlocutores, a negativa também estava relacionada com o fato de ele temer se transformar em "bola da vez".