Título: Consumo movido por importações
Autor: Oliveira, Eliane; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 18/07/2011, Economia, p. 20

Indústria vê demanda doméstica atendida por bens do exterior em 2012

BRASÍLIA. O crescimento da economia em 2012 - estimado em 4,1% pelo mercado financeiro - só será possível graças ao consumo das famílias brasileiras. Segundo representantes de dez setores ouvidos pelo GLOBO (entre eles, têxtil, de papel e celulose, calçadista e de máquinas e equipamentos), a população continua usufruindo do aumento da renda, tomando crédito e comprando mais. Mas essa demanda está sendo cada vez mais atendida por produtos importados, enquanto a indústria nacional continua perdendo competitividade.

Recentemente, dirigentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estiveram em Brasília para tentar convencer o governo de que o vigor da demanda doméstica está sendo absorvido, em sua maior parte, pelo crescimento das importações. Nos últimos cinco anos, enquanto o mercado interno cresceu 115%, a expansão da produção foi de 45%. O restante foi coberto com veículos importados.

O grande problema, aponta o setor produtivo, é o crescimento de longo prazo da economia, que não terá condições de acontecer com a falta de investimentos e as dificuldades logísticas do país. A diretora-executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes, lembra que o setor projeta investimentos de R$20 bilhões até 2017. Mas para que isso se concretize, alega, é preciso melhorar o ambiente de negócios no país:

- O problema não é crescer em 2011 ou em 2012. É fazer isso a longo prazo. E isso só vai acontecer com desoneração para o setor produtivo.

"Commodities" puxam ganhos na indústria de alimentos

No setor de bebidas, as empresas estão trabalhando com a capacidade instalada alta e já deveriam estar fazendo investimentos para ampliar seu parque fabril. Contudo, isso vem sendo adiado.

- O bom senso mostra que o aumento da capacidade instalada já deveria estar sendo preparado. Mas os aumentos dos custos com insumos como açúcar e da carga tributária do setor deixaram isso para outro momento - afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e Bebidas não Alcoólicas (Abir), Herculano Anghinetti.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, destaca que o setor já está no oitavo mês de queda na produção, enquanto o consumo de calçados continua crescendo.

Enquanto isso, segmentos que se beneficiam da alta nos preços das commodities vão na contramão do resto da indústria. O setor de alimentos é um exemplo. Cresceu 6,2% no primeiro trimestre, com aumento de 20% nas exportações, o que rendeu um saldo positivo de US$7,5 bilhões. As empresas vão contratar, este ano, 4,5% a mais que em 2010. O setor emprega, atualmente, 1,5 milhão de pessoas no país. (Eliane Oliveira e Martha Beck)