Título: Tudo nas redes sociais
Autor: Teixeira, Carlos Alberto
Fonte: O Globo, 18/07/2011, Economia, p. 17

Internet migra para sites como Facebook e Twitter, onde o usuário pode jogar, consumir, ler...

NO ALTO, no sentido horário: Tony Bates, do Skype, e Mark Zuckerberg, do Facebook, anunciam parceria para videochamadas na rede social; a aposentada Iara Kern abandonou e-mail e Google; Leandro Gomes sugere novas ferramentas ao Facebook; e Vanessa Klein critica a funcionalidade

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Cada vez mais populares, as redes sociais estão formando uma malha planetária apoiada na velha internet tradicional. Com o foco voltado às pessoas, esses sites se multiplicam, ganham adeptos e se sobrepõem à própria web, numa espécie de eclipse virtual. Neste novo mundo on-line que se desenha, tudo (ou quase) acontece dentro das páginas de Facebook, Twitter, Orkut, Google+ e similares. Games, chats, videoconferências, compras, aplicações financeiras, currículos e notícias migram e se adaptam aos ambientes das redes sociais ¿ sem falar na troca de mensagens e fotos entre os usuários, o que faz com que o e-mail se assemelhe a uma peça de antiquário.

O mais forte exemplo da nova topologia construída sobre a velha ¿grande rede¿ é o FB (Facebook). Seu criador, Mark Zuckerberg, anunciou recentemente parceria com o Skype, agora acessível de dentro da rede social. O F-commerce, outro aplicativo que cresce assustadoramente, já responde por 20% das vendas de e-commerce de grandes marcas nos Estados Unidos. Com a comodidade de poder comprar nas redes sociais, as projeções de faturamento do mercado de social commerce no mundo são de US$4 bilhões este ano e de US$30 bilhões em 2015.

De olho na tendência, a Google não quer perder o bonde e lançou seu Google+, com recursos que tentam ¿prender¿ o internauta em sua rede. Em outra frente que revela uma migração sem volta, a revista ¿Economist¿ mostrou que as redes sociais funcionam como o ¿café¿ de antigamente na disseminação da notícia de jornais impressos entre as pessoas.

Os internautas mais jovens chamam de ¿velhos¿ aqueles que continuam utilizando ferramentas hoje consideradas arcaicas da internet, como e-mail, FTP e os mensageiros instantâneos mais antigos, como IRC e ICQ.

Há quem acredite que, no futuro, a internet básica será coisa apenas para nerds e pessoas das áreas técnicas, enquanto a grande massa de internautas acabará em redes sociais que já existem ou que ainda estão por vir. Em paralelo, esses sites vão solidificar sua importância na rentabilidade dos negócios virtuais.

Redes absorvem tráfego de sites

Com o Face se tornando a maior ferramenta de relacionamento de marketing para marcas, aparentemente, em vez de aumentar o tráfego para o site oficial das companhias, a rede social está na verdade absorvendo esse tráfego. A consequência é que diminuirá a distinção funcional entre páginas web convencionais e páginas pessoais ou empresariais no FB.

¿ A rigor, páginas no FB são websites. Têm abas com funções, como as páginas em um site estruturado típico da web ¿ diz Ian Allan, consultor de redes sociais para pequenas e médias empresas, indagado via ¿Quora¿. ¿ Precisamos ficar atentos a ferramentas que possibilitem integração entre o FB e websites de modo complementar e poderoso. No entanto, pelo menos por ora, não convém pôr todos os ovos no mesmo cesto.

No setor das moedas virtuais, alguns especialistas vislumbram um cenário futuro em que os Facebook Credits poderão um dia substituir o PayPal como veículo preferido para pagamentos on-line.

Segundo Lee Hower, da East Coast Venture Capital e ex-analista do PayPal, o FB tem a maioria dos pré-requisitos para construir um sólido sistema de pagamentos on-line que poderá um dia competir ou até superar o PayPal: acesso a uma infraestrutura já existente de pagamentos; acesso a vendedores de peso (por ora, mais produtores de games, mas com potencial para comerciantes menores); acesso a consumidores (seus propalados 750 milhões de usuários); possibilidade e recursos para desenvolver um bom sistema de controle de fraudes e uma interface fácil para integração com ambientes externos.

Mas há quem discorde que o PayPal, pioneiro nos pagamentos on-line, possa ser suplantado pela empresa de Mark Zuckerberg:

¿ É muito difícil, no universo dos pagamentos on-line, o FB bater o PayPal, que é o grande provedor de baixo custo nesse setor. Cerca de metade dos pagamentos do PayPal é lastreada por crédito no próprio sistema ou uma conta bancária, em vez de por um cartão de crédito. Isso praticamente elimina os custos de financiamento dessas operações ¿ explica David O. Sacks, fundador do Yammer.com e do Geni.com, e ex-diretor de operações do PayPal.

Outro fenômeno sintomático é que alguns usuários do FB estão usando suas páginas públicas no site como seus currículos on-line, substituindo o consagrado LinkedIn. Mark Jacobson, recrutador de executivos, investidor e caçador de talentos, aponta o exemplo do aplicativo BranchOut para FB:

¿ O BranchOut levantou no fim de 2010 mais de US$6 milhões da Accel, da Norwest e de vários outros investidores-anjos, basicamente para proporcionar a profissionais buscando recolocação a oportunidade de encontrar emprego através de suas redes no FB. Não acho que o LinkedIn será substituído a curto prazo, mas o BranchOut está crescendo bastante a cada dia ¿ analisa.

Internet cada vez mais invisível

Até as tecnologias de ponta se voltam para testes nas redes sociais. Numa iniciativa quase premonitória, Eric Vyncke, engenheiro emérito da Cisco Systems, desenvolveu um aplicativo no Facebook que simula um roteador funcionando na futura internet IPv6 (novo protocolo de rede, que substitui e amplia o atual IPv4, com endereços quase esgotados),

¿ Uma vez configurado no Facebook, seu roteador pode estabelecer conexões ponto-a-ponto com todos os seus amigos e começar a rotear pacotes virtuais IPv6. É uma chance e tanto para aprender como funcionará a internet do futuro ¿ explica Vyncke, engenheiro civil formado pela Universidade de Liège.

Não é a primeira vez que surge um movimento na rede que dá a impressão que irá engolir a internet. Nos anos 90, foi a Usenet , uma rede paralela que movimentou multidões e fervilhou durante bom tempo. A Usenet, porém, se estabilizou num patamar bem abaixo do da grande rede, sendo absorvida pelo Google Groups.

Desta forma, assim como o computador tende a se tornar ¿invisível¿, funcionando escondido dentro de equipamentos e dispositivos de uso cotidiano, a velha internet deve em breve se tornar invisível. Não daremos muita atenção a ela e nos concentraremos nos ambientes sociais on-line que frequentaremos. É assim quando entramos num carro: queremos apenas dirigir sem ligar para os detalhes de funcionamento do motor ou da parte elétrica.