Título: Após acidente, Anac suspende voos da Noar
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 18/07/2011, O País, p. 9

Documento obtido pelo "Fantástico" comprova que pilotos relataram problemas técnicos em avião da empresa

RECIFE. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu ontem os voos da empresa aérea Noar, dona do avião que caiu na última quarta-feira em Recife, matando 16 pessoas. A agência tomou a decisão após receber da TV Globo cópia de anotações feitas pelos pilotos da empresa relatando problemas técnicos recorrentes em outra aeronave. A Noar havia retomado suas operações no sábado, com um voo de Recife para Maceió.

Em nota, a Anac informou que, a partir das informações obtidas pelo "Fantástico", há a suspeita de que a empresa está "adotando práticas que podem ferir tanto o Código Brasileiro Aeronáutico como regras da agência". Segundo a Anac, "essas anotações (dos pilotos) deveriam constar no livro de registro de voo, jornada e ocorrências da aeronave e de seus tripulantes (diário de bordo)". A agência informou que os voos estão suspensos até que se possa "constatar a veracidade das informações junto aos responsáveis."

Ontem, a Noar disse que cumpre todas as medidas da Anac, mas alegou que um dos livros de registro foi roubado da sede da empresa, em Recife, onde fica sua central de operações. A empresa teria registrado queixa do furto esta semana. O documento roubado conteria justamente as anotações de bordo, sem as quais qualquer empresa aérea fica impedida de operar. Os escritórios da Noar ficam em Caruaru, a 130 quilômetros de Recife.

Durante as operações de resgate, ainda muito emocionado com a morte do irmão, o copiloto Roberto Gonçalves, o empresário Jairo Gonçalves disse que o irmão já tinha mostrando preocupação com a aeronave, dizendo que ela " vinha perdendo força durante as decolagens" . Ele contou, inclusive, que o avião passou dois meses parado por problemas técnicos e que chegou a ser examinado por técnicos da República Tcheca, país onde fica o fabricante (Let Aircraft).

No mesmo dia, os donos da Noar confirmaram a vinda dos técnicos estrangeiros, mas informaram que houve reposição de todas as peças que precisavam de reparos. Eles alegaram que não haviam recebido nenhuma reclamação dos pilotos e que não dispunham de registros da queixa. Passageiros, no entanto, relataram problemas. Um engenheiro afirmou que dois dias antes do acidente não pôde embarcar porque, segundo a própria Noar, a aeronave estava com problemas. A Noar possuía dois aviões LET-410, e, com o acidente, apenas a PR-NOA estava fazendo voos. Os problemas relatados pelos pilotos ocorreram nesse avião.

O delegado Guilherme Mesquita, que apura a responsabilidade penal do acidente, disse que as primeiras pessoas a serem ouvidas serão os encarregados da manutenção do avião, em Recife, e Jairo Gonçalves. Na nota, a Anac lembrou que o diário de bordo é um dos itens averiguados em suas fiscalizações, "sejam elas programadas ou não". A agência "solicitou à companhia que apresente explicação sobre a existência de um documento auxiliar de registro de aeronavegabilidade".

A Noar alegou que o documento de "registro auxiliar" serve para apresentar "impressões e percepções das tripulações", sobre as aeronaves, que podem "se transformar em ordens de serviços, se for necessário, após análise de especialistas em manutenção". E afirma que esse registro auxiliar está dentro da lei, mas "foi furtado da empresa nos dias subsequentes ao acidente".

A empresa informou que o furto do documento "não trouxe prejuízos à companhia nem à investigação o acidente".