Título: Alunos da rede pública de Campinas ingressam na Unicamp sem vestibular
Autor: Benevides, Carolina; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 18/07/2011, O País, p. 4
Universidade oferece 120 vagas em curso que leva estudantes à graduação
SÃO PAULO. Alunos da rede pública de Campinas têm, desde este ano, a chance de frequentar o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), da Unicamp. Para ficar com uma das 120 vagas anuais é preciso estar no último ano do ensino médio e se inscrever no Enem. Os melhores de cada escola no exame garantem o lugar no ProFIS - que dura dois anos e oferece diploma de curso sequencial - e automaticamente uma vaga em um dos cursos de graduação. Existem vagas para, entre outros, Medicina, Arquitetura e Urbanismo, Farmácia, Filosofia e Engenharia.
- Vimos que em Campinas 85% dos que concluíam o ensino médio eram de escolas públicas e que apenas 30% dos que ingressavam na Unicamp vinham dessas escolas. Daí, criamos o ProFIS para permitir a inclusão social, mas também para dar aos alunos uma formação ampla e visão crítica do cotidiano. A partir do programa, o estudante que jamais colocaria a Unicamp como opção passa a frequentar a universidade, descobre que pode fazer uma graduação e faz uma escolha madura da profissão que vai seguir - conta Marcelo Knobel, pró-reitor de graduação da Unicamp, lembrando que as notas durante o ProFIS são determinantes na hora de escolher a graduação. - Escolhe antes aquele que tem a melhor nota.
Dos 120 alunos, apenas um largou o curso na Unicamp
A iniciativa tem tido baixíssima taxa de evasão: dos 120 que entraram este ano, só um desistiu das aulas, em período integral. Além disso, permite que os estudantes - que têm disciplinas como Evolução, Juventudes, Cidadania e Psicologia, Leitura e Produção de Texto, Matemática Básica, Introdução à Estatística e Textos Fundamentais de Literatura - tenham uma visão mais ampla dos cursos de graduação que poderão escolher.
- Estou tendo uma visão melhor dos cursos (de graduação) e vejo que tenho um leque grande para escolher. Quero algo na área de Exatas. Mas ainda estou na época de conhecer as áreas - conta Guilherme Arruda Pedroso, de 18 anos, que faz parte da primeira turma e, indeciso, chegou a fazer vestibular para Matemática e Engenharia Elétrica.
Mas não é só a taxa de evasão que é mínima: o interesse dos alunos do ensino médio da região também é pequeno. Diretora da escola Professor Newton Pimenta Neves, no bairro Jardim Aeroporto, Priscila Maria Pereira Santos conta que dos 700 alunos do último ano, dez se interessaram pelo programa:
- Infelizmente, a maioria dos nossos alunos não têm a ambição de cursar uma faculdade. Eles querem concluir o ensino e trabalhar, se conformam com o mínimo. Nós vamos tentar estimular, mas por enquanto os que se interessaram foram só os que já tinham as melhores notas na escola.
- Sabemos que disputamos esses alunos com o mercado de trabalho, a construção civil, por exemplo, está aquecida. Mas a gente quer criar a perspectiva de que a universidade pública fará diferença na vida desses jovens. E tem dado certo. Na primeira turma, 90% dos alunos são a primeira geração a chegar ao ensino superior - conta Knobel.