Título: Guerrilha estudantil por reformas no Chile
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 15/07/2011, O Mundo, p. 31

Propostas do governo para educação são rejeitadas; coquetel molotov queima policial diante de Embaixada do Brasil

RIO e SANTIAGO. Nos confrontos mais violentos desde que começaram as manifestações pela reforma no sistema de educação chileno, dois policiais ficaram feridos, durante a explosão de um coquetel molotov diante da Embaixada do Brasil, no Centro de Santiago. Segundo sites chilenos, os policiais estavam de guarda em frente ao prédio da embaixada e o estado de um deles é grave, com queimaduras nas pernas, tórax e vias respiratórias. Não há detalhes sobre o outro. Ao todo, a passeata terminou com 62 presos e 34 policiais feridos, além de uma troca de acusações: os estudantes dizem que a repressão policial gerou os confrontos, enquanto membros do governo cobraram que os manifestantes assumam a responsabilidade pelos incidentes. Não foi informado o número de estudantes feridos, embora manifestantes digam que pelo menos dois jovens foram atropelados por uma patrulha.

A passeata - que reuniu 20 mil pessoas segundo policiais, ou cem mil, de acordo com estudantes - começou tensa em Santiago. Os jovens se recusaram a percorrer o trajeto determinado pelas autoridades, que não incluiria o Palácio La Moneda. De volta ao traçado habitual, os estudantes usaram humor e ironia, com alguns deles de pijama, pedindo ao governo que não acabasse com seu sonho.

Conflitos envolvendo encapuzados foram reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água. Pedras foram jogadas contra a embaixada brasileira, que sequer abriu ontem. Um banco e um edifício histórico também foram atingidos.

- Estamos no caminho. As manifestações têm sido grandes, é difícil contê-las. Na anterior, um policial que protegia a embaixada também ficou ferido - disse por telefone, de Santiago, o secretário Sérgio Couto, acrescentando que o embaixador Frederico de Araújo não estava no local na hora do confronto.

Universitário é suspeito de jogar coquetel molotov

Os estudantes recusaram uma proposta lançada pelo presidente Sebastián Piñera dez dias atrás, que inclui um fundo de US$4 bilhões, aumento de 80% no número de bolsas de estudo e redução nos juros do financiamento do ensino até 2014. Em linhas gerais, os alunos dos ensinos fundamental e médio querem que as escolas passem dos municípios para o Estado; e os do ensino superior reclamam dos custos de financiamento dos estudos, já que no país não existem universidades gratuitas.

O presidente da Federação dos Estudantes da Universidade Católica do Chile (Feuc), Giorgio Jackson, lamentou os confrontos e acusou os policiais de "serem mais duros do que em outras ocasiões, provocando uma situação perigosa". Segundo ele, muitos não chegaram a participar da marcha, barrados por jatos d"água. Já a secretária de Governo, Ena von Baer, chamou os líderes estudantis de intransigentes e pediu que assumam a responsabilidade. Entre os presos está um universitário suspeito de queimar o policial.

Foi a terceira passeata em um mês e se repetiu em outras cidades, como Valparaíso e Concepción. E registrou menos participantes do que a de 30 de junho, que teve cem mil pessoas.

Com agências internacionais