Título: Família de Jean Charles estuda processar donos de tabloide
Autor: Lage, Janaina
Fonte: O Globo, 15/07/2011, O Mundo, p. 30

* e internacio@oglobo.com.br

LONDRES e BELO HORIZONTE. Parentes de Jean Charles de Menezes, o brasileiro morto por engano numa operação antiterror em Londres há seis anos, foram informados pela Scotland Yard de que pelo menos um deles, o primo Alex Pereira, pode fazer parte da lista de vítimas dos grampos telefônicos do tabloide ¿News of the World¿¿. Um número de telefone celular usado por Alex foi encontrado nos arquivos do detetive particular Glenn Mulcaire, acusado de colaborar com jornalistas. Hoje vivendo em Gonzaga, no Vale do Rio Doce, interior de Minas Gerais, Alex, de 33 anos, disse ontem que pensa em processar o conglomerado de Rupert Murdoch.

¿ Estou em contato com os advogados do caso do Jean, em Londres, para avaliar o que é possível fazer. Mas acho que Murdoch merece receber o troco. O jornal dele sobreviveu em cima da desgraça e do sofrimento de muita gente ¿ opina Alex, que voltou para o Brasil em 2009 depois de ter seu visto de permanência no país negado.

Ontem, a família que ainda está em Londres ¿ os primos Patrícia Armani, Vivian Figueiredo e Alessandro Pereira ¿ enviou uma carta ao premier David Cameron pedindo mais investigações.

¿ Algumas das notícias mais tendenciosas sobre a morte de Jean Charles saíram em publicações da News International. Queremos saber se informações foram vazadas por policiais envolvidos na investigação tanto em troca de dinheiro ou como forma de defender a reputação da Scotland Yard ¿ disse Yasmin Khan, porta-voz da família na capital.

Por orientação dos advogados, os primos de Jean Charles só devem se pronunciar após a confirmação de que a família foi alvo de escutas.

¿ Impossível para a família não pensar que a polícia mais uma vez está tentando esconder informações ¿ disse Khan, referindo-se às disparidades que marcaram a versão inicial dos fatos apresentada pela Scotland Yard.

No Brasil, Alex Pereira ainda guarda na carteira o chip do telefone que usou entre 2005 e 2008 e que teria sido grampeado. Ele diz que não lia tabloides porque considerava as reportagens fruto de especulação e sensacionalismo. Mas não se esquece da dor que sentia quando os jornais questionavam a inocência e o caráter do brasileiro morto por engano. Diz que avalia processar Murdoch por achar injusto o dono de um jornal ganhar tanto dinheiro às custas da invasão de sua privacidade.