Título: Derrotas em série
Autor: Lage, Janaina
Fonte: O Globo, 15/07/2011, O Mundo, p. 30

Murdoch vai depor no Parlamento britânico, e FBI investigará suspeita de grampos nos EUA

janaina.lage@oglobo.com.br

Acostumado a discutir vitórias nos negócios, o magnata Rupert Murdoch tem registrado derrotas sucessivas no escândalo do tabloide ¿News of the World¿. Em mais um capítulo do episódio que já arranha a imagem do conglomerado de mídia News Corporation, Murdoch e o filho James aceitaram testemunhar diante de uma comissão do Parlamento britânico que investiga as acusações de grampos telefônicos e corrupção. Poucas horas antes, os dois haviam dito que não poderiam comparecer na data marcada, a próxima terça-feira. Após uma declaração pública do premier David Cameron cobrando o testemunho, mudaram de ideia. Nos EUA, o FBI (a polícia federal americana) investigará suspeitas de que o império de mídia violou o sigilo telefônico de vítimas do 11 de Setembro.

A maré de problemas já se converteu em perdas. Segundo cálculos da consultoria Economática, desde a explosão do caso de escutas ilegais no Reino Unido, a News Corp já havia perdido quase US$6 bilhões em valor de mercado ¿ mais de 10% do seu capital. De olho nos números, o príncipe saudita Alwaleed bin Talal, segundo maior acionista da News Corporation, pediu a cabeça de Rebekah Brooks, a diretora-executiva da News International (o braço de operações do grupo no Reino Unido).

¿ Ela tem que sair ¿ disse à BBC.

Em entrevista a um de seus jornais, o ¿Wall Street Journal¿, Murdoch defendeu a atuação da empresa no caso e a de James, apontado até agora como seu sucessor óbvio no comando dos negócios. Sobre os danos à companhia, disse que ¿não são nada que não será recuperado¿.

¿ Temos uma reputação de grandes bons trabalhos neste país. (Estou) somente chateado. Vou superar. Estou cansado ¿ disse, ao ser questionado sobre o impacto pessoal das manchetes negativas.

Os jornais representam menos de 20% da receita das empresas de Murdoch no Reino Unido, mas o escândalo do tabloide ¿News of the World¿ provou até agora ter largo alcance. Primeiro, o magnata decidiu fechar o periódico de 168 anos acusado de grampear telefones de celebridades, políticos e familiares de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão, além de subornar policiais em troca de informações. Em seguida, ele desistiu ¿ mesmo que temporariamente, na avaliação de especialistas ¿ de adquirir 61% das ações da operadora de TV paga BSkyB no mesmo dia em que o Parlamento estava prestes a aprovar uma moção contra a aquisição. O negócio é considerado estratégico para a empresa, que já detém 39% da operadora, porque representaria a posse majoritária do mercado de TV comercial na sexta maior economia do mundo.

Outro ex-executivo do grupo é detido

Diante da pressão política dos legisladores, o Ofcom, o órgão regulador, informou que mesmo após a desistência da oferta levará adiante a investigação sobre o caso, que deve avaliar se a empresa é ¿apta e adequada¿ para ter uma licença de transmissão no país. Jornais britânicos relataram que a News Corporation já discute a hipótese de venda de seus demais títulos no Reino Unido, como o campeão de vendas ¿The Sun¿, o ¿Times¿ e sua edição dominical, o ¿Sunday Times¿, o que dependeria principalmente de um comprador disposto a pagar o preço esperado. Ao ¿Wall Street Journal¿, Murdoch disse que isso era ¿puro lixo¿ e que decidiu testemunhar no Parlamento ao saber que seria convocado.

¿ Se ele decidir vender, as operações no Reino Unido ficarão mais parecidas com seus negócios nos EUA, onde tem presença mais forte em TV do que nos jornais ¿ avalia Tom Rosenstiel, diretor do Projeto em Excelência em Jornalismo do Pew Research Center. ¿ Murdoch opera de acordo com ditames comerciais: o comportamento dele é o que é lógico para qualquer mercado, esse é o seu padrão consistente.

Para especialistas, Murdoch deve resistir ao máximo à venda dos jornais, que mesmo sem representar sua maior fonte de receita permanecem como plataformas influentes nos EUA e no Reino Unido.

Enquanto o magnata atua diretamente para minimizar o impacto da crise em Londres, mais um ex-executivo da News International, braço de operações do conglomerado de mídia no Reino Unido, foi preso ontem. Neil Wallis, ex-vice-editor do ¿News of the World¿, trabalhou no mesmo período que Andy Coulson, ex-porta-voz do primeiro-ministro que foi detido e posteriormente liberado pela polícia na semana passada. Wallis trabalhou como conselheiro para os principais funcionários da Scotland Yard no ano passado, o que aumenta a pressão sobre a instituição, acusada de ter vários de seus membros na folha de pagamento do tabloide. A polícia informou em nota que o empregou como conselheiro em ¿comunicações estratégicas¿.

Com agências internacionais