Título: Ativos à venda da BRF devem custar até R$ 2,2 bilhões
Autor: Durão, Mariana
Fonte: O Globo, 15/07/2011, Economia, p. 26

Segundo analistas, comprador teria de injetar ao menos R$250 milhões na nova empresa a título de capital de giro

JOSÉ ANTÔNIO Fay: usar o caixa para acelerar os investimentos

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SÃO PAULO. Os analistas estimam em até R$2,2 bilhões o preço dos ativos que a BRF-Brasil Foods terá de colocar à venda no mercado, como parte do acordo fechado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para aprovar a fusão de Sadia e Perdigão. Além daquele valor, o comprador teria ainda de injetar na nova empresa pelo menos R$250 milhões a título de capital de giro, para mantê-la funcionando. Pelo acordo aprovado na quarta-feira, além de fábricas, abatedouros e centros de distribuição, a BRF terá de se desfazer das marcas Rezende, Wilson, Texas, Tekitos, Patitas, Escolha Saudável, Light Ellegant, Fiesta, Freski, Confiança, Doriana e Delicata.

Ainda na quarta-feira, o presidente da BRF, José Antônio Fay, chegou a dizer que o preço para os compradores será o mais alto possível e ainda brincou ao afirmar que ¿o número de amigos (interessados no negócio) subiu muito nos últimos dias¿.

¿ Os ativos são muito valiosos e há várias empresas de alimentos interessadas. É uma oportunidade dos concorrentes de atender à demanda local ou partir para o mercado externo ¿ disse Gabriel Vaz de Lima, analista do Santander, que estima um valor de R$1,5 bilhão pelos ativos.

JBS e Marfrig estão entre possíveis compradores

As apostas para a compra das empresas giram em torno das brasileiras JBS-Friboi e Marfrig, dona da marca Seara, e da americana Tyson. Também estariam interessados fundos de private equity e investidores estrangeiros. O prazo para a venda dos ativos está sendo mantido em sigilo a pedido da BRF, mas a operação só deve acontecer no próximo ano.

¿ A Tyson até mandou no passado uma carta aberta ao Cade mostrando interesse pelo negócio. No caso da Marfrig, o problema seria o seu endividamento ¿ disse Lima.

Para Ricardo Martins Boiati, analista do Bradesco, os ativos valeriam entre R$1,5 bilhão e R$2,2 bilhões. Na sua avaliação, Marfrig e JBS seriam os principais interessados na compra. Marfrig porque já tem uma marca relevante, a Seara, capaz de concorrer diretamente com a Sadia, sem a necessidade de investimentos em marketing. A JBS também poderia se interessar pelo negócio para completar as suas operações com carne bovina.

BRF prepara crescimento vigoroso, diz presidente

Pelos cálculos de Henrique Ribas, analista da Planner Corretora, os ativos da BRF valem R$1 bilhão. Desse valor, mais de 50% seriam das empresas de carnes processadas e produtos elaborados, como pizza e lasanha. A melhor opção para o Cade seria a venda dos ativos para um único comprador capaz de fazer concorrência à BRF, mas não há certeza de que isso necessariamente ocorrerá. Ribas disse que cada empresa tem um interesse específico e as ofertas ocorrerão segundo a necessidade de cada uma.

¿ Vários ativos serão colocados à venda. A JBS pode se interessar por um e a Marfrig por outro. Vai depender do apetite de cada um e sua capacidade de financiamento para a compra ¿ afirmou Ribas.

Ontem, o presidente da BRF disse que está preparando a companhia para um crescimento vigoroso. Ele não detalhou onde a empresa investirá, mas destacou que a companhia tem histórico de crescimento e vai usar o seu caixa para acelerar os investimentos.

¿ Estamos preparando a companhia para crescimento vigoroso, orgânico e não orgânico. Temos flanco aberto em vários negócios que podem ser avançados com mais ou menos ímpeto ¿ disse Fay, em teleconferência para analistas.

Com as marcas autorizadas, e contando com o crescimento do mercado interno, a BRF também espera brigar pelos mercados em que teve produtos suspensos, segundo o diretor financeiro da empresa, Leopoldo Saboya.

(*) Com agências internacionais