Título: Senado italiano aprova corte de 79 bilhões
Autor:
Fonte: O Globo, 15/07/2011, Economia, p. 25
Plano de austeridade prevê coparticipação na saúde, redução de pensões e aumento de idade da aposentadoria
GIULIO TREMONTI: ¿Se houver mais erros, acontecerá como o Titanic: nem os passageiros da 1ª classe se salvarão¿
ROMA. O Senado italiano aprovou ontem ¿ por 161 votos a favor, 135 contra e três abstenções ¿ o plano de austeridade firmado pelo governo com a Comissão Europeia. O presidente da República, Giorgio Napolitano, qualificou como ¿um milagre¿ a rapidez com que o decreto-lei foi aprovado. Depois de uma madrugada de novos ajustes, o ministro da Economia, Giulio Tremonti, apresentou a proposta, agradecendo à oposição e alertando que o trabalho ainda não terminou. Ele anunciou que a Itália introduzirá na Constituição uma ¿regra de ouro¿, que exige o equilíbrio das contas públicas, uma meta que o governo pretende alcançar em 2014:
¿ Sem o déficit zero, o monstro da dívida, que vem do passado, devorará nosso futuro e o de nossos filhos.
Tremonti aproveitou o espaço no Senado para mandar um recado à Alemanha:
¿ Hoje na Europa temos um encontro com o destino, a salvação não chegará das finanças, mas de uma política comum. O problema não é a especulação, mas a credibilidade política. Não podemos cometer mais erros. Se o fizermos, acontecerá como o Titanic: nem os passageiros da primeira classe se salvarão.
A redução do déficit proposta pelo plano italiano chegará ao montante de 79 bilhões, mas há um pequeno truque: 60% do corte sairão de ¿novas receitas¿, ou seja, do aumento dos impostos. Segundo cálculo da CGIL, o maior sindicato italiano, os impostos anuais por família terão uma alta entre 1.200 e 1.800.
Famílias com filhos, universitários, aposentados por invalidez e crianças que recebem auxílio-creche, entre outros cidadãos, perderão, em 2013, 5% da ajuda que recebem e 20% a partir de 2014. Dessa forma, os italianos contribuirão para os cofres do governo com 24 bilhões, quase um terço do ajuste.
A oposição, que votou contra o texto, mas facilitou sua aprovação rápida ao não introduzir emendas, declarou-se indignada.
¿ O ajuste é vergonhoso no plano da equidade e classista, porque golpeia sobretudo as classes média e baixa ¿ disse Stefano Fassina, do Partido Democrático.
Italiano terá que pagar 10 por consulta em especialista
O plano tem metas de corte estabelecidas para quatro períodos: 3 bilhões em 2011, 6 bilhões em 2012, 25 bilhões em 2013 e 45 bilhões em 2014. A saúde será altamente afetada, com perda de 8,7 bilhões. O texto introduz também a coparticipação dos cidadãos no sistema de saúde: os italianos terão de pagar 10 por uma consulta com um especialista e 25 por serviços de urgência que não necessitem de internação.
Já estados e municípios sofrerão um corte de 21,6 bilhões e clamaram contra ¿um golpe que levará à quebra de muitos¿.
As aposentadorias serão alteradas de forma progressiva, de modo a reduzir em 5% as superiores a 90 mil por ano. As de mais de 150 mil por ano sofrerão corte de 10%. Além disso, a partir de 2013, a idade mínima de aposentadoria será aumentada em três meses em relação aos 65 anos para os homens e 60 para as mulheres, que estão vigentes no momento.
Para Tremonti, cujo país tem uma dívida pública de 1,8 trilhão, a zona do euro ¿é a mais rica e mais endividada do mundo¿. E ¿40% da zona do euro estão em crise¿:
¿ Ninguém pode acreditar, mas é assim. Um problema de credibilidade e confiança política. Estamos ante uma crise mutante, e a salvação tem que vir da política.
Tremonti também disse que o plano de austeridade ¿contém 16 novas ações para o crescimento, como crédito para a pesquisa, contratos para a produtividade e para o turismo¿.
Mas os mercados pareceram ignorar o ajuste. A Bolsa de Milão fechou em queda de 1,07%, nível mais baixo em dois anos. Londres, Frankfurt, Paris, Madri e Lisboa também caíram.
Já a chanceler alemã, Angela Merkel, mostrou-se favorável a uma reunião extra sobre a Grécia, mas impôs como condição que haja um acordo prévio para elaborar um novo plano de resgate.