Título: Um gás nas obras da CEG
Autor: Leite, Renata
Fonte: O Globo, 15/07/2011, Rio, p. 14

Concessionária trocará em um ano 50km de rede em Copacabana e no Centro

BUEIROS DA Light que explodiram na Rua da Assembleia, no Centro, em 4 de julho: presença de gás detectada por peritos

renata.leite@oglobo.com.br

ACEG vai começar uma verdadeira maratona de obras em Copacabana e no Centro, ainda este mês. Diante da pressão por melhorias em sua rede após a explosão de bueiros da Light no Rio, a concessionária decidiu trocar cerca de 50km de dutos nos dois bairros em apenas 12 meses, adiantando o cronograma que previa a realização dessas intervenções até 2013. O investimento deve chegar a R$25 milhões. O projeto com o detalhamento dos trechos das ruas onde acontecerão os trabalhos será apresentado à prefeitura e ao Ministério Público estadual, em reunião marcada para a semana que vem.

Os dutos de distribuição que serão trocados representam a maior parte dos 5% da rede que ainda não foram modernizados pela companhia. Em vez de ferro fundido, os novos tubos são feitos de polietileno, material mais resistente e flexível. Esses novos dutos têm pontos de união e solda ¿ onde a rede fica mais vulnerável ¿ a cada cem metros. No caso dos tubos de ferro fundido, essa distância é menor.

CEG diz que já investiu R$2,6 bi

Mesmo apressando a modernização da rede, o presidente da CEG, Bruno Armbrust, nega a responsabilidade da concessionária na sequência de explosões que assustaram os moradores do Rio ao longo dos últimos meses. O executivo afirmou ontem, em entrevista ao GLOBO, que foi detectada uma pequena quantidade de gás num bueiro da Rua Figueiredo Magalhães, em Copacabana, que explodiu em 2010, danificando um táxi. Também havia gás nos bueiros da Rua da Assembleia, no Centro, que explodiram no início do mês.

O vazamento no Centro teria sido causado por uma obra irregular de uma empresa de telefonia. Uma caixa de concreto havia sido colocada em cima dos dutos da CEG, o que teria danificado a rede e provocado o escapamento de gás para as caixas subterrâneas da Light.

¿ Nós havíamos passado há cerca de 11 meses ali, fazendo uma inspeção preventiva. Três meses antes do acidente, tínhamos voltado ao local com a inspeção conjunta que realizamos com a Lignt. Em nenhum dos momentos foi detectado gás ¿ destacou Armbrust.

De acordo com o presidente da concessionária, a CEG investiu R$2,6 bilhões nos últimos 12 anos para expandir e modernizar sua rede. Armbrust acusou outras empresas de não terem modernizado suas instalações. A concessionária de gás teria renovado, nos últimos anos, todas as suas 600 estações subterrâneas de regulagem (onde a pressão do gás é alterada, para que ele seja distribuído aos consumidores).

¿ Nossas estações de regulagem são blindadas e ventiladas com exaustores. Não entra água nelas, por exemplo. E são monitoradas remotamente por meio de sensores ¿ afirmou.

Armbrust criticou também a falta de um mapeamento do subsolo do Rio. Ele disse que apenas a CEG enviou o desenho digitalizado de toda a sua rede para o Instituto Pereira Passos, da prefeitura. Disputam o espaço subterrâneo do Rio encanamentos de água, esgoto, luz, gás e telefonia. Sem o conhecimento e o gerenciamento das redes de cada empresa, são comuns os danos aos equipamentos. A CEG registrou, nos últimos cinco meses, 180 danos de terceiros à sua rede.

¿ Somos a única concessionária que fez o mapeamento de sua rede ¿ ressaltou.

O plano de aceleração das obras de modernização da empresa foi apresentando ontem a representantes do Ministério Público. O promotor de Defesa do Consumidor, Rodrigo Terra, avaliou como positiva a reunião com a concessionária. A expectativa do MP é levar a CEG a assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC) nos moldes do firmado pela Light, que prevê o pagamento de multa de R$100 mil a cada nova explosão de bueiro na cidade com presença de gás da empresa.

¿ Acho positiva a mudança de estratégia da CEG. Pela primeira vez, a empresa se dispôs a agir diante do problema na cidade ¿ afirmou Terra.

CEG aceita acordo, mas nega multa

Armbrust negou que tenha sido discutida na reunião de ontem a cobrança de multa no caso de novas explosões. A empresa vai firmar um acordo com o MP ao fim das negociações, como informou ontem Flávia Oliveira na coluna Negócios & cia, do GLOBO. A aceitação da cláusula referente à multa, no entanto, ainda não é certa:

¿ Hoje (ontem) foi a primeira reunião. Vamos ter outra na próxima semana. Estamos assumindo o compromisso de antecipar investimentos e de intensificar as inspeções. Esses assuntos estarão no acordo que será elaborado após essas reuniões. Outros pontos ainda serão discutidos.

Para Rodrigo Terra, a aceitação da cláusula de multa é uma questão de tempo:

¿ A gente não abre mão da multa. A Light também não aceitou essa cláusula num primeiro momento, mas acabou assinando o termo de ajustamento de conduta. É uma questão de tempo e de entendimento do problema ¿ disse o promotor.

O Centro e Copacabana ainda têm trechos com a rede antiga, porque são bairros com movimento intenso de pessoas e carros. Isso obriga a concessionária a limitar os horários das obras, para interferir pouco no cotidiano da cidade.

¿ Vamos ter que ampliar o período do dia em que realizamos essas intervenções. Mas os moradores podem ficar tranquilos, pois as redes que serão trocadas ainda estão dentro de sua vida útil e não apresentam riscos para a população ¿ afirmou Armbrust.

A CEG já vem executando obras em Copacabana, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana 74, na Rua Ministro Viveiros de Castro 27 e na Avenida Atlântica 2.172. Desde o último sábado, a rede das ruas Sete de Setembro e Uruguaiana, no Centro. também estão sendo trocadas.