Título: Pagot não acusa PT; oposição fala em acordo
Autor: Fabrini, Fábio; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 13/07/2011, O País, p. 9

CRISE NO GOVERNO

Ao depor no Senado, diretor-geral do Dnit isenta o ministro Paulo Bernardo e diz que decisões são tomadas por colegiado

BRASÍLIA. Contrariando as especulações de que ligaria o PT e o Planalto à crise no Ministério dos Transportes, o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, cumpriu ontem um script para tentar ser mantido no cargo, apesar da determinação da presidente Dilma Rousseff de afastá-lo da função assim que terminar seu período de férias, em 5 de agosto.

Num depoimento de mais de cinco horas, ele isentou o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) de responsabilidade em suposto esquema de superfaturamento e cobrança de propina, assegurando que, agora e quando era titular do Planejamento, no governo Lula, o petista jamais solicitou aditivos em projetos, beneficiando empreiteiras. E foi só elogios à presidente Dilma, garantindo que ela nunca foi omissa no controle das obras.

Ao final do dia, a informação no governo era de que Dilma não tem condições de manter Pagot no cargo e que sua sucessão no Dnit já estaria sendo discutida pelo PR, partido do ministro demitido Alfredo Nascimento.

Após dias enviando recados velados pela imprensa, Pagot ontem baixou o tom. Embora repetindo que as decisões no Dnit são colegiadas e tomadas com conhecimento de todos da cúpula do ministério e do órgão, disse que respeita muito Paulo Bernardo e sua mulher, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), "exigentes no trabalho". Ele negou ter feito ameaças, atribuindo-as ao que chamou de "invencionices" de jornais e revistas:

Explicou que conhecia o ministro das reuniões do comitê gestor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC):

- Nunca me exigiu nada e nunca me pediu nada.

Pagot negou que o Dnit seja um feudo do PR e refutou acusações de que o partido tenha se valido de contratos do órgão para desviar verba e financiar campanhas. Alegou ser natural grandes empreiteiras que figuram como as maiores doadoras serem algumas das principais beneficiárias de aditivos contratuais.

No início da audiência pública, solicitada pelo PSDB, Pagot deixou claro que o órgão é dirigido por uma diretoria colegiada, da qual participam petistas, como o chefe de Infraestrutura Rodoviária, Hideraldo Caron, cujo setor avalia as revisões de projeto:

- Tudo no Dnit é aprovado pelo colegiado.

Pagot também frisou que o atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, pessoa de confiança da presidente Dilma, esteve presente nas decisões do órgão nos últimos anos, revezando-se com seu antecessor. E mesmo negando a existência de um esquema de corrupção, Pagot admitiu irregularidades, mas atribuiu à falta de fiscais:

- Sempre que tem conluio, pode ter certeza: lá na frente está a CGU, está o TCU para descobrir esse conluio.

Pagot compareceu voluntariamente ao Senado. Ontem, a oposição o acusava de ter feito um acordo, poupando Dilma e o PT, em troca do cargo. Para o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PSDB), houve um acerto com o Planalto para blindagem mútua:

- A estratégia foi a dos argumentos técnicos e inconsistentes, mas que podem confundir a opinião pública. Há corrupção. Nossa aposta é nas investigações do Ministério Público.

O líder do DEM, Demóstenes Torres, disse que a oposição insistirá numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).