Título: Gol na Web
Autor: Nogueira, Danielle; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 09/07/2011, Economia, p. 29

CONCENTRAÇÃO NO AR

Empresa aérea adquire rival por R$310 milhões e acirra concorrência com TAM

Enquanto a fusão entre TAM e LAN não avança, devido a entraves impostos por autoridades chilenas, a Gol deu mais um passo na disputa que trava com a TAM, líder no país, pelo mercado doméstico. A aérea anunciou ontem à noite ter adquirido 100% do capital da Webjet, a quarta maior do país, num negócio que envolve R$310,7 milhões. Desse total, R$96 milhões serão desembolsados pela Gol. A diferença, de R$214,7 milhões, se refere a dívidas da Webjet que serão assumidas pela rival.

Com a operação, sujeita à realização de auditoria técnica e legal dos ativos da Webjet, a Gol encosta ainda mais na TAM. Juntas, Webjet e Gol tinham em maio 40,55% do mercado doméstico, ante 44,43% da TAM. Não foi o ganho de participação, porém, e sim a ampliação dos slots (direito de pouso e decolagem) nos principais aeroportos do país que motivou a aquisição, segundo fontes com conhecimento das negociações. Em terminais como os de Congonhas (SP), Guarulhos (SP), Santos Dumont (RJ) e Confins (MG) é praticamente impossível conseguir novas autorizações, dado o elevado tráfego aéreo. Com a compra da Webjet, a Gol não diversificará sua malha, já que as duas voam para as mesmas cidades, mas poderá voar mais vezes para os principais destinos, ganhando escala.

- Hoje em dia, um slot num aeroporto como Guarulhos não tem preço - afirmou uma fonte.

- Você melhora o serviço porque poderá oferecer ao passageiro mais opções de voo - avaliou o especialista no setor Allemander Ribeiro.

Fora a Gol e a TAM, a Webjet é a empresa com maior participação nas chamadas rotas troncais (que ligam grandes cidades), segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As demais, Avianca e Azul, estão mais focadas nas linhas de alimentação dos grandes hubs (centros de distribuição de rotas, como Brasília e Viracopos). A maior fatia da Webjet no mercado está na rota Santos Dumont-Brasília (27,4%), seguida por Guarulhos-Porto Alegre (19,3%); Guarulhos-Brasília (17,5%) e Galeão-Salvador (16,3%). Ela tem 0,3% na ponte aérea (Rio-SP).

Outro facilitador é a frota da Webjet, aviões 737-300, que também são usados pela Gol. Além de ajudar na manutenção das aeronaves, favorece o treinamento da tripulação.

O negócio acompanha a concentração no setor, diz o diretor institucional da Gol, Alberto Fajerman:

- Tínhamos necessidade de ganhar musculatura para continuar forte no mercado e o perfil do passageiro da Webjet é parecido com o do nosso.

Fajerman disse que o presidente da Gol, Constantino Júnior, avisou ao ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, e aos diretores da Anac a intenção de realizar o negócio. As negociações começaram há um ano, mas a proposta formal só foi apresentada mês passado. Procurada, a Webjet não comentou o negócio.

Ações da Gol subiram 3,82%

Ontem pela manhã, Constantino Jr. e o empresário Guilherme Paulus, que comanda a holding GJP Participações, controladora da Webjet, tomaram café da manhã juntos em São Paulo. Depois, seguiram para o escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, onde estiveram reunidos por horas acertando os detalhes finais do negócio. Também participou da reunião o presidente da Webjet, Fábio Godinho. Fechado o acordo, Constantino Jr. embarcou para Londres, às 16h15m, de férias.

Com a compra da Webjet, a Gol também evita a concorrência estrangeira, lembra Respício Espírito Santo, da UFRJ. Com a possível ampliação de capital estrangeiro nas aéreas de 20% para 49%, como prevê projeto em tramitação no Congresso, a Webjet era dada como alvo certo. O próprio Guilherme Paulus manteve conversas com a empresa irlandesa Ryanair.

As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Gol subiram 3,82%, o maior avanço do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). As PNs da TAM caíram 2,01%, e as ordinárias (ON, com direito a voto) recuaram 3,9%.