Título: Blairo alega conflito de interesses para não assumir
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 09/07/2011, O País, p. 14

Nome de Paulo Sérgio Passos sai fortalecido

BRASÍLIA. Os interesses do empresário Blairo Maggi (PR-MT) falaram mais alto. O senador irá comunicar na segunda-feira à presidente Dilma Rousseff que está impedido de aceitar o convite para assumir o Ministério dos Transportes no lugar de Alfredo Nascimento, afastado na última quarta-feira. Blairo vai alegar conflitos de interesses, já que o grupo empresarial André Maggi, de sua propriedade, tem muitos negócios com o governo. O nome de Blairo queimado e a falta de outra alternativa dentro do PR, por enquanto, fortalecem a intenção de Dilma de manter Paulo Sérgio Passos no comando dos Transportes.

A decisão de não assumir um cargo no primeiro escalão foi tomada ontem à tarde, em Cuiabá, durante reunião do senador-empresário com diretores de suas empresas. Mas, segundo interlocutores, a negativa de Blairo também está relacionada com o fato de ele temer se transformar em "bola da vez" no escândalo que derrubou o ex-ministro Alfredo Nascimento e outros quatro servidores da cúpula dos Transportes, inclusive o seu afilhado político, o diretor afastado do Dnit, Luiz Antonio Pagot. Blairo também consultou familiares e integrantes do seu grupo político.

- Não quero criar constrangimentos para a presidente - disse Blairo na reunião, segundo relatos.

Com a recusa do senador, o PR voltou a ficar sem nomes para apresentar à presidente Dilma Rousseff. Existe forte resistência do partido à efetivação no cargo do ministro interino, Paulo Sérgio Passos. Na próxima semana, a comissão do PR formada pelo próprio Blairo e pelos líderes na Câmara, deputado Lincoln Portela (MG), e no Senado, Magno Malta (ES), terá nova reunião para apresentar outra opção de nome. Enquanto isso, a presidente Dilma tenta ganhar tempo e com isso, conseguir manter Passos de forma definitiva.

- As empresas do Blairo têm negócios com a Marinha Mercante, além de empréstimos do BNDES. Ele pensou nisso ao tomar a decisão. Quis evitar problemas e incompatibilidade com o cargo. Com isso, voltamos a ficar sem nome. Agora, temos que baixar a poeira e ver quem poderia ser - reconheceu Lincoln Portela.

Na quarta-feira, Blairo foi sondado pela presidente Dilma para ocupar os Transportes, depois da queda de Alfredo Nascimento. Na conversa, Dilma sinalizou que se ele aceitasse não iria mandar. Isso porque já havia decidido que todos os contratos do Dnit e Transportes serão revisados com lupa e acompanhados pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

Dilma explicitou que ele não teria autonomia para operar na pasta e no Dnit como o PR vinha operando até então. Nos bastidores, interlocutores do Planalto informam que já se previa que, ao divulgar o convite a Blairo, estourassem denúncias na Imprensa sobre seus negócios e escândalos de seu governo no Mato Grosso, inviabilizando sua nomeação. No PR, também havia até ontem esse temor.

O Planalto avalia que a recusa de Blairo fortalece a permanência de Paulo Sérgio Passos como uma barriga de aluguel do PR. A comparação foi feita com o ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que era filiado ao PMDB, mas que na prática foi uma escolha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Passos filiou-se ao PR no ano passado, quando assumiu o ministério no lugar de Alfredo Nascimento. Dilma prefere Passos porque, nesse caso, teria influencia completa no comando do Ministério dos Transportes.