Título: Dirceu diz que acusação se baseia em ilações
Autor: Amorim, Silvia; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 09/07/2011, O País, p. 10

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS

Réus afirmam que, no processo, não há prova contra eles; Gushiken se diz exultante com pedido de absolvição

Silvia Amorim, Cristiane Jungblut, Adriana Vasconcelos e Thiago Herdy

BRASÍLIA, SÃO PAULO e BELO HORIZONTE. O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu reagiu ontem em seu blog às alegações finais do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no processo do mensalão. Disse que as acusações contra ele são ilações e afirmou que aguarda o julgamento com serenidade. "Suas acusações contra mim não trazem qualquer prova material ou testemunhal. São meras ilações extraídas de sua interpretação peculiar sobre minha biografia", escreveu o ex-ministro. "Sou inocente das acusações que me fazem e vou prová-lo no STF, corte que, confio, julgará a ação com base nos autos e nas provas, na Constituição e na lei. Vou aguardar o julgamento com serenidade, pois sei que, ao final desse doloroso processo, se imporá a Justiça e cairá por terra a farsa montada contra mim".

Defensor de Marcos Valério, o advogado Marcelo Leonardo disse que não teve ainda acesso à integra das alegações finais apresentadas pelo procurador-geral. Mesmo assim, disse não considerar novidade a manutenção do pedido de condenação de seu cliente, que pode ser condenado a 1.727 anos de reclusão:

- Como órgão oficial de acusação, naturalmente eles iriam pedir a acusação, até para preservar a coerência do órgão - disse o advogado, que tem prazo até 30 de agosto para apresentar as alegações finais da defesa.

Leonardo se disse convencido de que as provas são favoráveis à defesa e que, por isso, acredita na absolvição de Valério:

- Entre as 600 testemunhas ouvidas, nenhuma afirmou que parlamentares e integrantes da base aliada tivessem votado porque receberam dinheiro. Essa afirmação ficou circunscrita na pessoa do acusado e réu Roberto Jefferson.

O advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende o ex-presidente do PT e atual assessor especial do Ministério da Defesa, José Genoino, disse que não há prova de que seu cliente tenha praticado qualquer irregularidade:

- Não concordamos em absoluto com a posição adotada pela Procuradoria Geral da República. É um processo longo, porém que não se logrou produzir nenhuma prova, nenhum indício de que Genoino, na presidência do PT, tenha praticado qualquer irregularidade - disse. - Como presidente do PT, se relacionava com os parlamentares do partido, dos partidos da base, ele era presidente do partido-líder da base aliada, mas não há nada que macule essa relação e não há qualquer indício de que tenha havido corrupção de parlamentares por parte do presidente do PT .

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares preferiu não comentar a decisão do procurador-geral de defender sua condenação no mensalão do PT. Delúbio disse, por telefone, que estava no interior de Goiás e que seu advogado, Antônio Malheiros Filho, falaria sobre o processo, o que só deve ocorrer semana que vem. Delúbio foi o único petista a ser expulso do partido pelo envolvimento no mensalão. Recentemente, teve o aval da cúpula partidária para se refiliar.

Em nota divulgada em seu site, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), outro que tem a condenação pedida, afirmou que o parecer de Gurgel "não traz nenhuma novidade jurídica ou política". E reiterou que não há nos autos qualquer prova material ou testemunhal que corrobore as acusações contra ele.

Já o advogado de Luiz Gushiken, José Roberto Leal, contou que o seu cliente comemorou a iniciativa do procurador-geral de pedir sua absolvição:

- Ele está exultante e achando que, enfim, está lhe sendo feita a justiça.