Título: Coulson, um fantasma a persegui-lo
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 21/07/2011, O Mundo, p. 28

Biógrafo do primeiro-ministro britânico vê ingenuidade nos elos dele com a cúpula da News International

LONDRES. Coautor de ¿A ascensão do novo conservador¿, biografia de David Cameron lançada em 2007 e que ainda figura entre as mais vendidas do gênero na livraria virtual Amazon, o jornalista James Hanning não acredita que o caso Coulson terá consequências extremas para o premier britânico. No entanto, poderá ser um fantasma a persegui-lo pelo resto da carreira política.

Como fica a situação do premier David Cameron?

JAMES HANNING: Não creio que seja tão grave como alguns setores da mídia vêm dizendo. Todo mundo subestimou o escândalo dos grampos, inclusive no meio político. David Cameron não vai renunciar por causa de Andy Coulson, e faltam pelo menos quatro anos para a próxima eleição. Mas ele certamente sofreu danos, sobretudo porque sua ascensão ao cargo foi marcada por um discurso de lisura e de honestidade; de como Cameron era um político diferente.

Cameron fez ouvidos de mercador no caso Coulson?

HANNING: Há indícios de que muita gente tentou avisar Cameron de que a contratação de Coulson lhe traria problemas. Ele preferiu ignorar a todos e cometeu o maior erro de sua administração. Cameron precisava de Coulson para montar sua estratégia de comunicação, pois um ex-editor de tabloide era uma figura ideal para ajudá-lo nessa questão de promoção. Foi teimoso e agora terá o fantasma de Coulson a persegui-lo pelo resto da carreira.

Pouca gente entende como ele demorou tanto para se distanciar de Coulson...

HANNING: Cameron preza pela lealdade a seus círculos, o que ajuda a explicar um pouco a relutância. Outro fato é que ele tem baixa tolerância com questionamentos. E volto a lembrar que Coulson também era um trunfo nas relações com Rupert Murdoch. Mas também acredito que Cameron na época da contratação de Coulson (2007) achava que os grampos eram um problema isolado, bem diferente do cenário atual.

A relação com Murdoch e a News International também não é problemática para o premier?

HANNING: Ter o apoio dos jornais de Murdoch era parte fundamental da estratégia de Cameron para vencer as eleições de 2010, e ele precisou se aproximar da News International. Ao mesmo tempo, ele se expôs demais para o resto da mídia. Para alguém que fez carreira em relações públicas, o premier agiu com muita inocência, achando que a contratação de Coulson e a cordialidade com Murdoch e seu círculo não despertariam críticas.

A amizade dele com Rebekah Brooks pode trazer novas complicações?

HANNING: Brooks poderá ser um enorme problema para Cameron, ainda mais agora que surgem as alegações de que a compra da BSKyB pode ter sido discutida nas muitas ocasiões sociais em que houve a participação do premier. Cameron não é um sujeito desonesto, mas a percepção pública pode ser completamente diferente.

Qual a saída?

HANNING: Estou certo de que o premier está tão chocado quanto o público em geral com a extensão do escândalo. E ele reagiu bem, com a criação dos inquéritos e mesmo os pronunciamentos públicos contra a News International. Tomou atitudes mais fortes que os Murdoch, por exemplo. Mas continuará na defensiva enquanto o escândalo continuar crescendo. Isso nunca é bom para um político. (F.D)