Título: Polícia identifica assassinos de casal no Pará
Autor: Corrêa, Evandro
Fonte: O Globo, 21/07/2011, O País, p. 10
Fazendeiro foi mandante da execução de José Cláudio e Maria do Espírito Santo, realizada por um irmão do mentor e um pistoleiro
MARABÁ (PA). A Polícia Civil do Pará divulgou ontem os nomes dos executores e do mentor dos assassinatos do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, crime ocorrido na manhã do dia 24 de maio, na zona rural do município de Nova Ipixuna, sudeste paraense. Segundo a polícia, o fazendeiro José Rodrigues Moreira é o mandante do duplo homicídio, e o crime foi cometido por Lindon Jonson Silva Rocha, irmão do fazendeiro, e pelo pistoleiro Alberto Lopes dos Santos. O motivo foi a disputa por terra dentro do Projeto de Assentamento Extrativista Praialta-Piranheiras. A polícia pediu a prisão preventiva dos três, que estão foragidos.
O delegado Silvio Maués Batista afirmou que a disputa por lotes no assentamento ocorreu depois que o Incra demarcou a área do local, que possui 22,5 mil hectares, estabelecendo 250 hectares por família e com venda proibida.
Mas, há cerca de dois anos, o fazendeiro José Rodrigues comprou ilegalmente uma área de terra no Praialta-Piranheiras por R$50 mil, onde viviam duas famílias de agricultores. Segundo a polícia, o fazendeiro e seu irmão, Lindon Jonson, passaram a intimidar e ameaçar os colonos para que saíssem da área. À época, o fazendeiro José Rodrigues ofereceu R$2 mil para que as famílias fossem embora.
Avisados do que estava acontecendo, o casal José Cláudio e Maria do Espírito Santo - líderes no assentamento - denunciou o caso à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e às autoridades do estado.
Após grande pressão, os agricultores expulsos retornaram aos seus lotes. Testemunhas ouvidas à época declararam à CPT que José Rodrigues teria ameaçado o casal.
Lindon Jonson e Alberto dos Santos, segundo a polícia, premeditaram cada passo da emboscada. No dia do crime, por volta das 6h, chegaram ao local, uma estrada vicinal que dá acesso ao assentamento, e aguardaram a passagem do casal, que seguia do assentamento em direção à sede do município de Nova Ipixuna. Quando a motocicleta conduzida por José Cláudio atravessou a ponte, os dois acusados saíram do mato, armados com uma espingarda, e fizeram o primeiro disparo, que atingiu o coração de Maria; ela ainda conseguiu caminhar alguns metros, caindo logo à frente. Em seguida, o pistoleiro efetuou um segundo disparo, que atingiu José Cláudio.
Ainda segundo a polícia, os criminosos cortaram uma das orelhas de José Cláudio, prática comum de pistoleiros na área para levarem uma prova da execução a seus mandantes. Antes de fugir, usando uma motocicleta, um dos criminosos jogou na mata uma máscara de mergulho usada por garimpeiros e que ajudou na solução do crime.
Em nota pública divulgada ontem, a Coordenação da CPT de Marabá criticou a postura do juiz Murilo Lemos Simão, da 4ª Vara Penal, que já negou por duas vezes os pedidos de prisão preventiva contra os acusados de participação nas mortes de José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo.
CPT criticou segredo de Justiça das investigações
Para a CPT, "ao negar a decretação da prisão dos acusado por duas vezes, o juiz contribuiu para que esses fugissem da região". A nota ressalta ainda que o magistrado também decretou o sigilo das investigações sem que o delegado que presidia o inquérito ou o Ministério Público tenha solicitado. "Muitos outros crimes de grande repercussão já ocorreram no estado do Pará (Gabriel Pimenta, Irmã Adelaide, massacre de Eldorado, José Dutra da Costa, Irmã Dorothy) e em nenhum deles foi decretado segredo de Justiça".
* Especial para O GLOBO