Título: Difícil tarefa para Dilma Rousseff
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Fonte: O Globo, 21/07/2011, Opinião, p. 6

As demissões do ministro dos Transportes, de parte de sua equipe e do presidente da Valec já foram de grande impacto. O ministro Alfredo Nascimento, presidente do PR, foi afastado pouco depois das demais dispensas, e puxou uma fila de pesos-pesados na estrutura da Pasta: Luiz Pagot - ainda formalmente em férias -, do Denit, e José Francisco das Neves, o Juquinha, presidente da Valec, se destacavam no grupo. Não se esperava é que fosse mais longe a correta intervenção da presidente Dilma no balcão de negócios do PR em que se transformou o ministério.

Depois de um aceno para o partido, por meio de um convite pro forma ao senador Blairo Maggi (MT), padrinho de Pagot no cobiçado Denit, Dilma fez ministro quem ela queria, Paulo Sérgio Passos. Servidor de carreira, secretário-executivo do ministério durante muito tempo e ministro interino em dois períodos no governo Lula, Passos se filiou ao PR, mas o partido não o considera como representante - uma boa credencial para ele. A degola continuou e atingiu José Sadok de Sá, o segundo de Luiz Pagot, ao ser descoberto que a construtora da mulher dele obtivera contrato milionário da repartição do marido. E em dois dias, terça e ontem, mais nove foram exonerados. Ao todo, já haviam sido defenestrados mais de uma dúzia de funcionários, medida da dimensão a que chegou o uso do ministério pelo PR a fim de, por meio de propinas, como se denuncia, abastecer caixas dois diversos e ainda atrair outros políticos sem escrúpulos para a legenda. Tanto quanto alguma esperança, causa surpresa a cirurgia de grande porte executada por Dilma num organismo tomado pela doença da fisiologia. O jornal "Folha de S.Paulo" revela que Lula confessou a interlocutores temer pelo isolamento do Palácio. Faz sentido, pois foi ele que aceitou o jogo do toma lá dá cá, dentro do qual montou a equipe do Ministério dos Transportes deixado de herança para a sucessora. Sem o toma lá, teme Lula que não haja o dá cá no Congresso. Foi assim que o jogo político-parlamentar se reduziu a barganhas comerciais e financeiras.

Em oito anos de ministério, era inadmissível que Dilma Rousseff não aprendesse em que tom a banda tocava. O mesmo vale para o novo ministro dos Transportes, navegador de longo curso na Pasta. A presidente não pode desconhecer que foi sobre fundações cimentadas com dinheiro público distribuído de forma fisiológica que se ergueu a própria candidatura. É lógica a contradição entre o que corretamente faz Dilma nos Transportes e a maneira como está montada a aliança partidária que a sustenta. Mas, se a presidente deseja uma administração com um mínimo de eficiência, tem de fazê-lo. Não há alternativa. Pode ser também, como se especula, que seja uma estratégia de atração da classe média emergente, mais sensível a questões éticas. Que seja. O importante, neste caso, é a chance de uma faxina na máquina do Estado. Trabalho não falta, pois, nos Transportes, apenas a corrupção ficou muito visível ao atingir patamares estratosféricos. Idêntico modelo de ordenha de dinheiro do contribuinte funciona em outras áreas, como nas Minas e Energia - ministério nas mãos do PMDB e especificamente de maranhenses ligados a José Sarney. Há mais.

São esperados os próximos passos da presidente, para se saber até que ponto Dilma prosseguirá na operação de limpeza na Esplanada dos Ministérios.