Título: O pior resultado da Era Lula
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 19/08/2009, Economia, p. 13

Entre janeiro e julho, foram abertas 437 mil vagas, menos de um terço do oferecido em igual período de 2008

No Brasil, mesmo quando o emprego cresce, se acha pouco. Nos Estados Unidos, estão comemorando a diminuição do desemprego¿ Carlos Lupi, ministro do Trabalho

Os empregos com carteira assinada criados nos sete meses do ano tiveram o pior resultado do governo Lula para o período. De janeiro a julho de 2009, foram abertas 437.908 vagas, menos de um terço das registradas em igual período do ano passado, 1.564.606. Somente em 2003, ano inicial da Era Lula, a quantidade de postos de trabalho ficou abaixo de um milhão nos sete primeiros meses, 598.140 novas vagas (veja quadro).

Mas os números ruins não tiraram o bom humor do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Ele comemorou os dados de julho, de 138.402 novos postos de trabalho, o melhor resultado do ano até agora. Ele garantiu que, no emprego, o país virou a página da crise. ¿No Brasil, mesmo quando o emprego cresce, se acha pouco. Nos Estados Unidos, estão comemorando a diminuição do desemprego¿, disse. Segundo Lupi, enquanto no país houve saldo positivo no mercado de trabalho, na maior economia do mundo foram fechados 214 mil postos em julho e 415 mil em junho. No ano, os EUA contabilizam o desaparecimento de 3,618 milhões de vagas.

O otimismo do ministro não arrefece nem mesmo diante do baixo desempenho do setor industrial. A indústria de transformação conseguiu fechar o mês com saldo líquido positivo de 17.354 postos de trabalho, apesar dos resultados ainda negativos da indústria da borracha (-3.906 empregos), do segmento metalúrgico (-1.077) e de material de transporte (-468). No acumulado do ano, no entanto, o emprego industrial está altamente negativo, apresentando queima de 127.123 postos. O outro grande setor que permanece com números no vermelho no ano é o comércio: 5.642 vagas destruídas. O setor extrativista fechou 1.463 vagas.

Para o ministro, isso é passado. Ele está convencido de que, já em agosto, todo o setor industrial trará resultados positivos. ¿O segundo semestre será muito melhor que o primeiro¿, alardeou, mantendo para o ano a previsão de um milhão de vagas com carteira assinada. ¿O Brasil está no rumo do crescimento. O PIB (Produto Interno Bruto) deste ano terá crescimento de 2%¿, previu.

Sinais de estagnação Em julho, os setores que mais contribuíram para o saldo positivo do emprego foram construção civil (+32.175 postos de trabalho), agricultura (+29.483), serviços (+27.655) e comércio (+27.292). A força do desempenho da agricultura está ligada à safra na região Centro-Sul do país. O campo, porém, começou a dar sinais de que o período do pleno emprego está chegando ao fim. Em algumas regiões, o desemprego já começou. É o caso da cultura do café que, em julho, desempregou 4.664 trabalhadores em Minas Gerais, 1.348 no Espírito Santo e outros mil em São Paulo. O desempenho positivo da agricultura ficou por conta do cultivo de frutas cítricas (mais 14.878 empregos) e do cultivo de uva no Nordeste, que abriu 4.805 postos.

Em termos regionais, o emprego foi forte no Sudeste e no Nordeste. No Sudeste, foram abertas 65.344 vagas, com destaque para São Paulo, que ofereceu 52.811 postos, e Rio de Janeiro, com 9.649. No Nordeste, os melhores resultados foram na Bahia (9.792 empregos); Ceará (9.523) e Pernambuco (7.485). Em julho, cinco unidades da Federação registraram perda de postos de trabalho: Rio Grande do Sul (-481), Mato Grosso do Sul (-54), Roraima (-61), Amapá (-3) e Espírito Santo (-99 ).

Ford descarta demissões

Ullisses Campbell Eduardo Nicolau/AE - 15/4/04 Rogelio, da Ford, informa que a empresa ampliará investimentos em tecnologia

São Paulo ¿ As três fábricas da Ford no Brasil não farão demissões neste semestre. Por outro lado, porém, também não reforçarão os quadros com novas contratações. ¿Hoje, não temos plano definido de contratação adicional. Vamos produzir conforme a demanda¿, afirmou Marcos Oliveira, presidente da montadora no Brasil, ontem, em São Paulo. Com 10,2 mil funcionários, a companhia planeja chegar em dezembro com 3,1 milhões de veículos vendidos, correspondendo a uma alta de 9,9% em comparação com 2008.

A Ford foi uma das companhias em atividade no Brasil que enxugaram o quadro de pessoal para se adequar ao encolhimento da demanda após a crise econômica mundial. Em março, a montadora lançou um plano de demissão voluntária (PDV) que teve a adesão de 300 funcionários.

Preços Sobre o desempenho do mercado brasileiro, a companhia avalia que a procura dos consumidores por carros novos tende a permanecer até dezembro, favorecida pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A partir de 2010, no entanto, Marcos Oliveira adverte que os preços dos veículos devem subir em decorrência do retorno da alíquota do IPI aos níveis originais, ou seja, sem o benefício da redução.

Para enfrentar a restrição do consumo, a Ford conta com o ampliação da oferta de crédito aos consumidores para a compra de carros zero quilômetro. O diretor de Assuntos Governamentais, Rogelio Golfarb, enfatizou que a companhia deverá ampliar os investimentos em tecnologia que resultem em novas soluções. ¿A Ford faz 90 anos no Brasil e sua história foi marcada pelo desenvolvimento da engenharia local¿, lembrou o executivo. Para 2010, a companhia prevê o lançamento, no país, de uma nova geração de motores em alumínio, chamada de Sigma.

Reforço no consumo

Deco Bancillon

A crise financeira mundial fez surgir um movimento inusitado no Brasil. Pela primeira vez, desde 1944, os índices gerais de preços(IGPs), que corrigem a maior parte das tarifas públicas e os contratos como os de aluguel, fecharão o ano em deflação, o que dará um reforço e tanto no poder de compra dos trabalhadores. Ou seja, com os preços da maior parte dos produtos em queda e as tarifas em baixa, sobrará mais espaço na renda das famílias para o consumo. Não é à toa que a maior parte dos analistas está prevendo inflação próxima de 3,5% para 2010, índice muito inferior ao centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%.

O processo de deflação começou a ganhar corpo desde o período mais agudo da crise mundial, no fim do ano passado, com a forte retração das commodities agrícolas e industriais, produtos com cotação internacional e que têm peso importante no cálculo dos IGPs. O estrago provocado pelo estouro da bolha imobiliária americana levou o mundo à recessão, reduzindo a demanda por todo tipo de mercadoria, inclusive alimentos. A oferta maior empurrou os preços para baixo, processo intensificado nos últimos três meses. ¿Estamos passando por um período de deflação conjuntural, que não tende a se estender por muito tempo¿, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.

Câmbio ajuda Segundo ele, esse movimento se consolidou ontem com a divulgação do Índice Geral de Preços 10 (IGP-10) de agosto, com deflação de 0,60%, quase o dobro da queda de 0,35% computada em julho. O Índice de Preços no Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP-10, ampliou, na mesma comparação, a baixa de 0,68% para 1,04%. No acumulado do ano, os produtos agropecuários e industriais estão negativos em 2,21% e 5,62%, respectivamente. ¿Há uma forte pressão deflacionária no atacado. Mas tem também o fator do câmbio¿, disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. De dezembro de 2008 a agosto, a moeda norte-americana caiu mais de 20% ante o real, cotada a R$ 1,85.

Além disso, acrescentou o economista Flávio Serrano, do Banco BES Investimento, a queda na produção na indústria e a elevada ociosidade (capacidade instalada) nas indústrias darão menos espaço a reajustes de preços. ¿Os dados de volatilidade (da produção) continuam mostrando recuperação, mas ninguém está projetando isso nos preços¿, assinalou. As projeções para 2010 mostram que, mesmo diante de um crescimento econômico mais expressivo, a inflação deverá ser menor que a deste ano. ¿Isso vai resultar em um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) cadente¿, emendou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Laura Haralyi, analista de inflação do Banco Itaú, ressaltou que outro fator positivo vem do campo. ¿A alimentação parou de pressionar para cima (a inflação). Se olharmos a alimentação em domicílio no ano passado, no segundo trimestre, ela foi pressionada pela alta do arroz, do feijão e da carne, produtos que são rapidamente repassados ao varejo. Este ano, esses fatores não aconteceram.¿