Título: Depoimentos elevam pressão sobre premier
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 20/07/2011, O Mundo, p. 31
Governo ignorou informações sobre o escândalo e recebeu conselhos de envolvido no caso
LONDRES. Os depoimentos prestados ao comitê parlamentar britânico aumentaram as suspeitas quanto ao relacionamento entre os jornais do magnata Rupert Murdoch no Reino Unido, o governo e a Scotland Yard. Entre os indícios apontados de uma proximidade excessiva, o governo teria ignorado deliberadamente novas informações sobre o escândalo do tabloide ¿News of the World¿, e ex-funcionários dos jornais de Murdoch no Reino Unido representariam quase um quarto do efetivo da assessoria de imprensa da polícia de Londres.
Os comentários colocam o premier britânico, David Cameron, mais uma vez na berlinda. O comissário-assistente da Scotland Yard que pediu demissão na última segunda-feira, John Yates, relatou à Comissão de Assuntos Domésticos do Parlamento Britânico que a força tentou passar informações mais específicas sobre o caso em setembro de 2010, mas a oferta foi recusada por um assessor do premier, Ed Llewellyn, em uma resposta enviada por email. O governo já estava sob pressão por ter contratado Andy Coulson, um ex-editor do tabloide, para a equipe. Coulson foi editor-chefe do ¿News of the World¿ entre 2003 e 2007, período em que o esquema de escutas telefônicas teria se intensificado. Apesar das suspeitas sobre ele, Coulson trabalhou para Cameron durante quatro anos, participando da organização da candidatura ao governo britânico, mas deixou o cargo de porta-voz de Cameron em janeiro.
¿ Dispusemo-nos a fazer um briefing sobre as investigações para o primeiro-ministro, mas a oferta foi recusada ¿ explicou Yates.
O depoimento de Yates promete acirrar os ânimos na sessão parlamentar de emergência convocada por Cameron para hoje. Ontem, a BBC informou que outro ex-funcionário do ¿News of the World¿ trabalhou, mesmo que indiretamente, prestando consultoria para a campanha eleitoral de Cameron em 2009: Neil Wallis, também acusado de envolvimento no esquema. Conexões com Wallis não causam problemas apenas ao governo. O nome dele está no centro da crise na Scotland Yard. No domingo, o número um da polícia, o comissário Paul Stephenson, renunciou depois que vieram à tona informações de que Wallis prestara consultoria de relações públicas para a força ao mesmo tempo em que era um potencial suspeito nas investigações dos grampos. Wallis não é o único ex-funcionário de Murdoch a constar na folha de pagamento da corporação. Stephenson revelou em depoimento que outros dez ex-empregados do grupo trabalham na assessoria de imprensa da polícia. Em nota, a força confirmou a informação, mas ressaltou que trabalha com 45 jornalistas.
As principais suspeitas sobre a polícia recaem sobre a decisão de recusar a reabertura das investigações de grampos em 2009. A medida foi vista como uma tentativa de acobertar a denúncia de que policiais receberam dinheiro em troca de informações para o ¿News of the World¿. (F.D.)