Título: Desemprego cai ao menor nível
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 20/07/2011, Economia, p. 23
Taxa chega a 6,2% em junho, mas efeitos de contenção de crédito e alta de juros começam a pesar
No mesmo dia que o governo anunciou uma desaceleração na criação de vagas com carteira assinada (leia matéria abaixo), o IBGE divulgou que, a despeito de um contingente de 1,5 milhão de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do país, a taxa de desemprego do mês de junho ficou em 6,2% - a menor para um mês de junho desde o início da série, em 2002. IBGE e Ministério do Trabalho usam metodologias e universos diferentes para calcular o nível de emprego.
Segundo o IBGE, no semestre, a média, de 6,3%, está um ponto percentual abaixo do que foi visto nos primeiros seis meses do ano passado, sendo, mais uma vez, um recorde na série. Para alguns especialistas, o cenário ainda é um mercado de trabalho aquecido, que, contudo, já sente os efeitos da retirada de estímulos à demanda - como alta das taxas de juros, medidas de contenção ao crédito e ajuste dos gastos fiscais.
- Em junho, o que se percebe é que o mercado de trabalho não contratou. Houve redução da população ocupada e desocupada. Então, o mercado de trabalho ainda não se prepara para a atividade maior do segundo semestre, o que acontece nessa época do ano - disse Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do IBGE. - Não se pode esquecer que, às vésperas de provas e férias, há uma redução da busca por emprego.
Expansão da renda preocupa o BC
Nas contratações frente a junho de 2010, o setor de serviços prestados às empresas foi o destaque. Em junho, foram mais 215 mil pessoas atuando no segmento, uma alta de 6,4% ante igual mês do ano anterior. Já a indústria - que perdeu a força na geração de postos no segundo semestre de 2010 - registrou quase metade desse contingente: 113 mil trabalhadores a mais do que em junho de 2010.
- Com a expansão da renda dos brasileiros, especialmente na classe C, aumentou a demanda por serviços. E isso vem provocando contratações no mercado de trabalho. O que se pergunta é se isso é sustentável, já que a melhora nas condições de renda e trabalho estão fortemente ligadas à expansão fiscal e num crescimento pouco baseado em investimento. Além disso, a indústria perde o fôlego e já se fala em demissões no segundo semestre - pontuou Ruy Quintans, professor do Ibmec.
A pesquisa do IBGE mostrou que os rendimentos foram maiores em junho. Na média, os trabalhadores (formais e informais) ganham, mensalmente, R$1.578,50, o que vem a ser uma alta de 4% sobre os ganhos de junho de 2010. O emprego doméstico é o que mais tem ganhos de remuneração: alta de 9,8%, elevando o rendimento para R$626,90.
Para especialistas, a expansão da renda pode ainda ser uma sinalização de força do mercado de trabalho e, assim, pode preocupar o Banco Central. Na avaliação de Felipe Wajskop França, economista do banco ABC Brasil, ainda que os rendimentos apresentem crescimento mais modesto nos próximos meses, o risco de pressão na inflação deve manter o BC alerta, "justificando a extensão do aperto monetário até pelo menos sua reunião de agosto".
Segundo Azeredo, do IBGE, o mercado de trabalho continua mais formal. Profissionais com carteira assinada já são 48,2% da população ocupada. E cita a indústria que contratou, no mês passado, 29 mil trabalhadores.
- De um lado, o mercado de trabalho está mais formal. Do outro, há um contingente de profissionais com formação atuando em empregos abaixo da sua formação - acrescentou Quintans, do Ibmec.
Com a perspectiva de aumento de produção para o segundo semestre, a taxa de desemprego pode recuar mais. Carlos Corseuil, economista do Ipea, não descarta a possibilidade de se atingir uma taxa abaixo de 6% este ano. Hoje, três regiões metropolitanas brasileiras (Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre) já estão com taxas de desemprego abaixo da taxa americana antes da crise (cerca de 5%). Mas, alerta, o desempenho da economia vai depender de elementos externos:
- Há fatores que podem repercutir no nível da atividade, como incertezas na economia mundial. Além, é claro, de medidas para conter crédito - explicou.
Azeredo ressaltou que o nível de ocupação atingiu 53,3%, um patamar que também é recorde. Porém, analistas ainda enxergam uma moderação no mercado de trabalho brasileiro. Relatório do Itaú Unibanco revela que a retirada de estímulos à demanda - como juros elevados, contenção ao crédito e ajuste dos gastos fiscais - já contribuem para uma moderação do mercado de trabalho. Contudo, o ritmo é insuficiente para reduzir de forma significativa os desequilíbrios entre demanda e oferta por mão de obra.
A confiança do setor industrial na economia permaneceu estável em julho na comparação com o mês anterior, mas continua abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) deste mês alcançou 57,9 pontos - o mesmo de junho, mas 5,5 pontos abaixo do índice de julho de 2010.
O resultado ficou abaixo da média histórica, que é de 59,6 pontos. O setor automotivo teve a maior queda de otimismo: recuando dos 64,2 pontos em julho de 2010 para os atuais 52,7. Em relação a junho houve leve recuperação, de 1,93%. O estudo da CNI atribui o baixo otimismo à percepção de que as condições de negócios pioram ante os últimos seis meses.
COLABOROU André de Souza