Título: Grupo ataca pai e filho, confundidos com gays
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 20/07/2011, O País, p. 13
Vendedor teve parte da orelha arrancada; ele estava abraçado com o filho numa feira de São João da Boa Vista (SP)
JOÃO GARRIDO: ¿SE nós fôssemos gays, estaríamos mortos¿
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SÃO PAULO. Confundidos com homossexuais, o vendedor autônomo João Garrido, de 42 anos, e o filho dele, de 18, foram violentamente agredidos enquanto se divertiam numa feira de exposição em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, na madrugada da última sexta-feira.
Pai e filho estavam abraçados quando um grupo de pelo menos sete rapazes ¿ todos aparentando cerca de 20 anos ¿ abordou os dois perguntando se eles eram gays. Garrido disse que não, e os agressores foram embora. Menos de dez minutos depois, foram surpreendidos com ataques pelas costas. Garrido teve parte da orelha direita arrancada.
¿ Estávamos esperando a minha namorada, que tinha ido ao banheiro. Eles vieram por trás e começaram a bater na gente. Tomei uma pancada na cabeça e caí. Quando levantei, só ouvia as pessoas gritando que tinham arrancado a minha orelha ¿ lembra Garrido.
No início da noite, a polícia prendeu um dos rapazes acusados pelo crime. Outros dois foram identificados, mas continuam foragidos. Garrido avalia que a ação dos marginais poderia tê-lo matado.
¿ Se um pai abraçado com o filho é agredido por acharem que os dois são gays, imaginem o que fariam se fôssemos gays. Nós estaríamos mortos ¿ diz ele, lembrando que os agressores gritavam que ali não era lugar de ¿viado¿.
¿ O que fizeram é um absurdo. Ninguém tem nada a ver com a opção sexual das outras pessoas. É preciso fazer alguma coisa para tentar diminuir essa violência contra os gays ¿ pede ele, que é pai de quatro filho, três deles adolescentes.
Garrido faz fretes e vende sapato na zona rural da cidade, onde mora com a família. A pedido dos filhos, saiu naquela noite para assistir aos shows de música sertaneja. Depois da agressão, o grupo deixou a exposição em meio à multidão.
A violência contra gays tem chamado a atenção no país, considerado líder mundial no ranking de assassinatos contra homossexuais: cerca de 200 mortes a cada ano, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia, ONG que há 30 anos defende direitos dos homossexuais. A Bahia lidera o número de casos de agressões que resultaram em mortes no Brasil, seguida por Alagoas e São Paulo. Só este ano, já foram 11 no estado. De 2007 a 2010, o número pulou de 18 para 29. Neste mesmo período no Brasil, os assassinatos aumentaram de 142 para 260, ou seja, mais de 80%.
¿ A Bahia é um estado alegre e receptivo para as diferenças de cor e raça, mas, ao mesmo tempo, intolerante. A violência generalizada no Brasil e no estado não se justificam, e também a impunidade ¿ afirma Luiz Mott, do grupo gay da Bahia.