Título: Correa tem força hegemônica em Quito
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 22/07/2011, O Mundo, p. 30
Presidente equatoriano quer legislação regional de controle da imprensa
jose.casado@oglobo.com.br
Ele promulgou uma Constituição à sua medida, concentrou poderes, assumiu o controle do Legislativo e do Judiciário, cooptou boa parte das organizações civis e transformou seu desestruturado partido (Alianza País) em força política hegemônica no Equador. Tudo isso no curto espaço dos últimos 30 meses.
Rafael Correa, presidente do Equador, agora tenta obter a submissão de jornalistas e veículos de comunicação que escolheram continuar fiéis ao seu público, registrando a avalanche de denúncias de corrupção governamental, em vez de se render à sedução monetária presidencial. É o que está por trás da condenação de Emilio Palacio e diretores do ¿El Universo¿.
Evidências do projeto autocrático de Correa surgiram nos primeiros 100 dias de governo, em 2007, quando convocou uma Assembleia Constituinte e garantiu hegemonia legislativa para impor, no ano seguinte, uma Constituição sem consensos políticos básicos e sem qualquer preocupação em aperfeiçoar a fragilizada democracia equatoriana.
Como diz o ex-presidente e historiador Oswaldo Hurtado, no estudo abertura da décima oitava reedição do seu clássico ¿O Poder Político no Equador¿ (1973), Correa não apenas rompeu com a tradição equatoriana de veto à reeleição presidencial, como também ¿limitou a liberdade de atuação da oposição e dos meios de comunicação e concentrou poderes no Executivo, em prejuízo da independência das outras funções do estado e de órgão de controle.¿
Agora, anuncia que no final deste mês vai apresentar aos governos da América do Sul a proposta uma legislação comum para controlar os meios de comunicação em todos os níveis ¿ da propriedade acionária à participação no mercado, passando pelo conteúdo editorial com um comitê governamental específico. O fórum escolhido é a União das Nações Sul-americanas (Unasul), criada pelo governo Lula há dois anos. Na semana passada o Itamaraty avisou Correa que não deve contar com o apoio brasileiro.
¿O problema é que ele não aceita receber um não¿, lembra o mais velho dos Correa, Fabricio, que há dois anos frequenta salas de tribunais denunciando corrupção no governo do irmão. Meses atrás Fabricio deu uma grande festa num hotel em Quito: não convidou Rafael, mas contratou um dublê do irmão-presidente que passou a noite circulando entre seus amigos ¿ todos fantasiados de Al Capone.