Título: Novo fôlego para a Grécia
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Fonte: O Globo, 22/07/2011, Economia, p. 23
UE e FMI acertam socorro de 109 bi, e credores privados entrarão com mais 50 bi
Do El País*
Depois de mais de oito horas de negociações, os líderes da zona do euro fecharam ontem um acordo para socorrer a Grécia e, assim, salvar a moeda única europeia, ameaçada pela crise da dívida na região. Eles concordaram em conceder à Grécia um novo pacote de resgate, de 109 bilhões em recursos da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que deve responder por um terço desse valor. Os bancos privados devem fazer uma contribuição "voluntária" de 50 bilhões. Além disso, os juros passarão de 4,5% para 3,5% ao ano, e o prazo de pagamento, de 7,5 para 15 anos. Em maio de 2010, a Grécia recebera uma ajuda de 110 bilhões.
- Isso criará um caminho sustentável e permitirá administrar a dívida da Grécia - afirmou o premier grego, George Papandreou, que se referiu ao acordo como um "Plano Marshall europeu", referindo-se ao programa montado pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial para ajudar na recuperação da economia europeia.
Além dos chefes de Estado e governo dos 17 países da zona do euro, participaram da cúpula a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde; o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean Claude Trichet; e representantes da indústria financeira, como Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank e do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).
- A Europa mostrou estar à altura dos desafios - disse a chanceler alemã, Angela Merkel.
Mas o presidente da França, Nicolas Sarkozy, avisou que "o que fizemos pela Grécia, não faremos por outros países". Dentro da zona do euro, Irlanda e Portugal também já receberam ajuda oficial, enquanto Itália e Espanha lutam para sair da crise.
Durão Barroso: "Solução única"
A participação privada consiste em um programa de três anos, de 37 bilhões, no qual os credores vão trocar ou rolar a dívida por novos títulos, com vencimento em 30 anos. Além disso, haverá um programa de recompra de dívida, no valor de 12,6 bilhões, o que levará o total a 50 bilhões. Ackermann disse que 90% dos bancos europeus se comprometeram a financiar voluntariamente a Grécia.
Segundo o diário britânico de negócios "Financial Times", como esse programa implicará numa redução de 21% no valor dos papéis da dívida grega, poderia ocorrer um "calote seletivo" - o primeiro nos 12 anos de existência do euro. Por isso, Trichet e Sarkozy se opunham à participação privada. Os líderes da zona do euro, no entanto, asseguraram que o programa não será estendido a outros países.
- O envolvimento do setor privado é para a Grécia, e apenas para a Grécia - disse o presidente da Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, José Manuel Durão Barroso. - É uma solução única.
O euro subiu 1,6% ontem frente ao dólar, a US$1,4435, graças ao acordo.
- Essas medidas criam as melhores condições possíveis para que a Grécia e outras economias periféricas da região coloquem a casa em ordem, reduzindo o risco de contágio - disse Marco Valli, economista-chefe do banco UniCredit, à agência Bloomberg News.
Irlanda e Portugal terão juro menor
Na cúpula, também foi acertado um reforço no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), de 440 bilhões, para recomprar títulos de países com problemas e refinanciar as instituições financeiras.
- Concordamos em criar o princípio de um Fundo Monetário Europeu - disse Sarkozy.
Os juros sobre os empréstimos concedidos por meio do Feef - inclusive para Irlanda e Portugal - serão reduzidos para 3,5%, e o prazo de vencimento passará de 7,5 anos para 15 ou 30 anos, com dez de carência, no caso de novos recursos.
Mas a Grécia ainda enfrenta problemas. Os taxistas estão em greve desde o início da semana, bloqueando o acesso a portos e aeroportos do país. A associação das empresas de turismo recorreu à Justiça para que o governo tome uma providência.
(*) Com agências internacionais