Título: Quebra de safra faz preço do álcool subir
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 16/07/2011, Economia, p. 31

Na bomba, litro do combustível está por R$1,999, na média do país. O valor é 3,2% acima do registrado em junho

SÃO PAULO. Os preços do etanol nos postos da região Centro-Sul do país ensaiam uma nova alta. Pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que o preço médio do litro do combustível ficou em R$1,999 na bomba no período de 1 a 14 deste mês, contra R$1,937 em junho (+3,2%) e R$1,554 em julho do ano passado. A alta já parece ser consequência da quebra da atual safra de cana-de-açúcar, que terá como resultado uma menor oferta de álcool combustível. No Rio, o preço médio do álcool hidratado está em R$2,21. Em São Paulo, o valor médio está em R$1,81.

Projeção da Unica (entidade que reúne os produtores da região Centro-Sul) é de queda de 11,19% na produção de etanol nesta safra (2011/2012), em comparação à anterior (2009/2010). Será a primeira redução desde o início do ciclo dos carros flex, em 2002. Entre os motivos para uma produção menor estão a longa estiagem e a idade avançada do canavial, que não teve uma renovação das mudas nos últimos anos.

- Não tem cana. Esta safra é menor que as duas anteriores. Além disso, o Brasil está vivendo um desequilíbrio na oferta de combustível por conta da maior demanda por veículos flex - argumenta o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.

O aumento dos preços do etanol pode ser mais um problema para o governo Dilma, que ainda tenta domar o fantasma da inflação. Para André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas ( IPC/FGV), a preocupação não é tanto com o etanol, que tem peso de 0,30 no cálculo do índice. O problema maior, diz o economista, é o provável reflexo nos preços da gasolina (que tem parte de sua composição misturada ao álcool anidro, e que tem peso de 4%). Segundo Braz, a cada alta de 1% da gasolina, o IPC sobe 0,04%.

- Se houver, esse movimento (de repasse dos preços para a gasolina) é preocupante - disse o economista da FGV.

Para Rodrigues, da Unica, os preços do etanol já se ajustaram ao mercado, e uma alta só deve acontecer se houver aumento da demanda. A safra que está sendo colhida, segundo ele, garantiria um consumo mensal em torno de 1,1 bilhão de litros do combustível por mês. Acima disso, começa a pressão nos preços. Por outro lado, o executivo da Unica lembra que a alta dos preços leva o consumidor a trocar o combustível verde pela gasolina.

- O produto que há hoje garante o consumo até o início da próxima safra. Se os preços subirem muito, a demanda cai e a oferta se ajusta - disse ele.

Ele acrescentou que, de abril a junho deste ano, o volume de vendas de etanol ficou 1,2 bilhão de litros abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, o que representa uma redução de 20% em relação a 2010. Essa queda, avalia ele, indica que o mercado já se ajustou e que os preços deverão se estabilizar no patamar que se encontram hoje, entre R$1,70 e R$1,90 por litro.

- O mercado tende a ficar normalizado, e os preços vão se manter nesses patamares. Se subir, caem as vendas. Se houver queda no preço, falta produto e, consequentemente, sobe o preço - disse o diretor da Unica.

A analista da consultoria Tendências Amaryllis Romano diz que a produção menor de etanol é o principal fator para o aumento dos preços nas bombas. A redução da mistura de álcool anidro à gasolina e o incentivo à importação do produto não vão aliviar a pressão, disse.