Título: Atentado duplo tira a paz da terra do Nobel
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Fonte: O Globo, 23/07/2011, O Mundo, p. 39

TERROR NA NORUEGA

Bomba no coração de Oslo e atirador em ilha matam ao menos 17; suspeito preso é norueguês e sugere à polícia ação ultranacionalista

OSLO

As ambulâncias ainda removiam os sete mortos e as dezenas de feridos pelas gigantescas explosões que abalaram prédios do governo no centro de Oslo quando, 40 quilômetros ao sul dali, na ilha de Utoeya, um atirador abria fogo contra uma reunião da ala jovem do Partido Trabalhista (governista), matando pelo menos dez dos cerca de 700 participantes, todos entre 15 e 16 anos. Os dois ataques terroristas - que teriam sido perpetrados pelo mesmo homem - em um intervalo de cerca de duas horas levaram pânico à pacata Noruega, transformando o país num campo de batalha que muitos descreveram como o episódio mais trágico dali desde a Segunda Guerra Mundial.

A confusão em um país conhecido pela defesa do pacifismo e por abrigar a Fundação Nobel não impediu que a polícia detivesse, poucas horas depois, o suspeito de envolvimento no atentado duplo. E se as suspeitas iniciais recaiam sobre o fundamentalismo islâmico, a sombra de uma ação de grupos ultranacionalistas surpreendeu o país com a prisão do norueguês Anders Behring Breivik, de 32 anos, capturado em Utoeya.

- Foi um ato covarde. Mas isso não vai destruir a nossa democracia - declarou o primeiro-ministro Jens Stoltenberg, garantindo que o objetivo foi atingir a sede do governo e a reunião de jovens membros de seu partido.

As investigações mostram que o suspeito - um típico norueguês, louro e com 1,90 de altura - esteve presente no centro de Oslo antes de ser detido pouco depois do tiroteio em Utoeya. Segundo o canal 2 da TV local, Breivik tinha ligações com grupos de extrema-direita. Vestido com um uniforme de policial, ele teria aberto fogo contra dezenas dos 700 jovens integrantes do congresso depois de atraí-los a um canto.

- Venham, venham! Tenho uma informação importante - teria dito o atirador, segundo testemunhas ouvidas pelo jornal "Ostlands Posten".

A polícia no entanto, não descarta que outras pessoas estejam envolvidas na ação. Depois de uma rajada de tiros de fuzil automático, imagens da TV local mostravam corpos espalhados pela grama nos arredores da ilha, e dezenas de jovens se lançando na água para uma fuga desesperada nadando. A polícia também encontrou um explosivo escondido próximo ao acampamento.

A sobrevivente Elise, de 15 anos, descreveu momentos de muito medo. Segundo ela, quando ouviu os tiros,viu o suposto policial e achou que estava segura:

- Foi quando ele começou a atirar nas pessoas bem diante de mim. Vi muitas mortas. Primeiro ele atirou nas que estavam na ilha. Depois, nas que estavam na água.

A adolescente correu para se esconder, mas acabou se dando conta de que estava atrás da mesma pedra em que estava o criminoso.

- Eu podia ouvir a respiração dele no alto da pedra - relatou, aflita.

O terror, no entanto, começara antes. Por volta das 15h30m (10h30m de Brasília), uma forte explosão, cuja origem ainda é desconhecida, sacudiu o edifício de 17 andares que abriga o escritório do primeiro-ministro. Uma nuvem de fumaça encobriu o centro de Oslo, levando pânico a quem passava pelo local.

- Trata-se de um ataque terrorista. É o episódio mais violento a atingir a Noruega desde a Segunda Guerra Mundial - declarou o deputado Geir Bekkevold, do opositor Partido Popular Cristão.

O impacto da explosão estilhaçou vidros na sede do governo e causou danos, ainda, aos ministérios da Economia e do Petróleo. Este último pegou fogo. Pessoas corriam pelas ruas apavoradas, enquanto a Polícia montava uma operação de emergência para isolar toda a área - temendo a possibilidade de novas explosões. A jornalista piauense Cilene Bonfim, moradora de Oslo, resumiu o dia com pesar.

- A Noruega está em choque. É um dia totalmente triste aqui - disse a brasileira.

Jihadistas assumem, mas voltam atrás

Ninguém assumiu oficialmente a responsabilidade pelo ataque. Mas, mais cedo, o desconhecido grupo islâmico Ansar al-Jihad al-Alami (Auxiliares da Guerra Santa Mundial), que alega ter vínculos com a rede al-Qaeda, reivindicou a autoria dos atentados numa mensagem postada em um fórum extremista na internet. O próprio autor da mensagem, no entanto, se retratou algumas horas depois.

Na Casa Branca, o presidente americano, Barack Obama, lamentou o episódio e afirmou tratar-se de um "lembrete para que o mundo siga comprometido com o fim do terrorismo". O presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, também condenou os atentados e, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff criticou, em nota, a violência.

"Foi com profunda consternação que recebi a notícia dos atentados ocorridos hoje. Gostaria de estender, em nome do governo e do povo brasileiros, nossos sinceros sentimentos de pesar e solidariedade ao Reino da Noruega e às famílias das vítimas", dizia o texto.