Título: Governo vence e Petrobras reduz investimentos
Autor: Ordoñez, Ramona; Durão, Mariana
Fonte: O Globo, 23/07/2011, Economia, p. 33

Planejamento de Negócios da estatal para 2011/15 fica em US$224,7 bilhões, mantendo igual nível do anterior

RIO e BRASÍLIA. O governo federal impôs à Petrobras uma contenção de gastos e manteve o nível de investimentos da estatal para o período 2011/2015 praticamente igual ao previsto no plano anterior. O Conselho de Administração da companhia, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, aprovou ontem o novo Plano de Negócios com investimentos de US$224,7 bilhões, apenas US$700 milhões acima do valor do plano 2010/2014. Foi a terceira vez que a estatal submeteu a proposta de investimentos ao Conselho. Na primeira vez, a companhia propôs investir US$260 bilhões. O conselho vetou e pediu redução nos gastos. Na segunda reunião, a companhia propôs US$230 bilhões, também vetados.

O plano se baseia em dois cenários nos quais a taxa de câmbio se mantém em R$1,73 e o barril do petróleo tipo Brent varia de US$80 a US$110. Dos US$224,7 bilhões, a Petrobras estima utilizar de US$125 bilhões a US$148,9 bilhões em recursos próprios, dependendo do cenário. E prevê a necessidade de captar de US$67 bilhões a US$91,4 bilhões em recursos. Estão previstos 688 projetos. Do total a ser investido 95% (US$213,5 bilhões) serão aplicados no Brasil e 5% (US$11,2 bilhões), no exterior - praticamente a mesma parcela do plano anterior, que era de US$11,7 bilhões.

A área de Exploração e Produção lidera os investimentos e receberá US$127,5 bilhões (57%). No plano 2010-14, a participação da área era de 53%. O refino, por sua vez, terá investimentos de US$70,6 bilhões (31%), US$3 bilhões a menos em relação à média de investimentos do plano anterior. Sem detalhar se houve adiamento nos prazos de entrada em operação das refinarias em construção, a Petrobras informou que aportará US$35,4 bilhões na expansão do parque de refino. E fixou metas de redução de custos na construção das novas refinarias.

Também sem dar detalhes, a companhia informou no comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que pela primeira vez vai realizar um programa de desinvestimento (venda de ativos) no valor de US$13,6 bilhões.

Segundo o novo Plano de Negócios, a produção este ano atingirá a média de 2,1 milhões de barris diários de petróleo e 435 mil barris de gás natural equivalentes. No exterior, a produção total de petróleo e gás ficará em 237 mil barris diários. Para 2015, a meta é uma produção de 3,07 milhões de barris por dia, dos quais 543 mil sairão diariamente do pré-sal. A Petrobras também projeta atingir uma produção de 4,91 milhões de barris por dia de petróleo em 2020, dos quais 1,14 milhão serão do pré-sal. Esse volume é bem superior à previsão anterior - 3,95 milhões de barris diários de petróleo, sendo 1,07 milhão do pré-sal. A participação do pré-sal na produção nacional passará de 2% este ano para 40,5% em 2020.

Anúncio saiu dentro da previsão de analistas

A manutenção do mesmo nível de investimento veio dentro das expectativas de especialistas e investidores. Para Cláudio Frischtak, presidente da InterB Consultoria, o plano anterior já era extremamente robusto e de execução complexa, de acordo com as restrições de financiamento, caixa e capital humano qualificado. O recado do Conselho, analisa ele, é que a única maneira de fechar a equação é não ultrapassar esse limite.

O advogado especialista no setor de óleo e gás Cláudio Pinho atribui a pressão do governo por aperto de gastos ao emperramento da agenda regulatória e ambiental do pré-sal. Para Pinho, essas decisões afetam os custos de exploração. Esse quadro, somado ao cenário de retração da economia internacional, justifica a postura mais cautelosa. Ele esperava pequenas mudanças sobre o plano 2010/2014, calculadas com base em variação cambial e inflação.

Na avaliação do analista da corretora SLW Erick Scott, o mercado já esperava um nível de investimentos menor no plano 2011/2015, dados os adiamentos na aprovação da proposta em outras reuniões do Conselho de Administração. No entanto, o aumento da alocação de recursos para exploração e produção pode ser considerada positiva.

- No plano anterior, a Petrobras aumentou a participação dos investimentos em refino e o mercado não gostou - disse.

Para Scott, a mudança pode agradar ao mercado. Além disso, segundo ele, grande parte da influência da redução dos investimentos no plano 2011/2015 já foi repassada às cotações das ações da Petrobras.

Também foi anunciado ontem que a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, é a mais nova integrante do Conselho de Administração da Petrobras. Ela foi eleita durante reunião do colegiado para ocupar o cargo provisoriamente no lugar do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, que deixou o cargo em junho, após pedir demissão do governo por suspeitas sobre sua evolução patrimonial.

A eleição dos integrantes do conselho é anual, sempre durante a Assembleia Geral de Acionistas da Petrobras (AGO), e a última ocorreu no dia 28 abril, justamente quando Palocci foi escolhido. A próxima reunião ocorrerá em abril de 2012.

COLABORARAM Vinicius Neder e Mônica Tavares