Título: Governo estuda novas medidas
Autor: Bôas, Bruno Villas; Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 23/07/2011, Economia, p. 31

Meta é evitar que moeda americana fique abaixo de R$1,55

BRASÍLIA. A equipe econômica continua monitorando o comportamento do dólar no mercado. Apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter minimizado os efeitos da forte entrada de moeda estrangeira na semana passada, ele já pediu a sua equipe que deixe engatilhadas todas as medidas possíveis para evitar que o dólar fique muito abaixo de R$1,55, menor cotação em 12 anos. Uma possível ação que pode ser adotada é tornar ainda mais caras para os bancos as operações com derivativos.

Embora já tenha elevado de 0,38% para 6% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que incide sobre depósitos de garantia para aplicações estrangeiras no país (operação utilizada no mercado de derivativos), o tributo pode subir mais. Há duas semanas, o Banco Central aumentou a punição para os bancos que atuam no mercado com excessiva posição de câmbio vendida - quando aposta na desvalorização do dólar.

O BC determinou o recolhimento de depósitos compulsórios sobre a posição vendida dos bancos que exceda US$1 bilhão ou que seja superior a seu patrimônio de referência. Antes, esse compulsório era recolhido sobre posições superiores a US$3 bilhões. Segundo o diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, a medida surtiu efeito: houve redução, em R$7 bilhões, na posição vendida dos bancos. Já as operações com derivativos continuam elevadas.

Os técnicos do governo admitem que as medidas adotadas até agora foram paliativas, pois o movimento de queda do dólar é uma tendência mundial. Eles sabem que a única coisa que realmente provocaria uma reversão nas cotações da moeda americana seria uma mudança no regime de câmbio flutuante, mas está fora de cogitação.

As ações que vêm sendo anunciadas têm a meta de evitar uma volatilidade muito grande no mercado. Tudo que tem um aumento vertiginoso - como a cotação do real - tende a sofrer uma reversão. E, dependendo de como ela ocorra, pode desequilibrar a economia e deixar empresas e investidores em dificuldade.

Até agora, os aumentos feitos no IOF para conter a queda do dólar, por exemplo, serviram muito mais para reforçar a arrecadação federal do que para impactar o mercado. De janeiro a junho, por exemplo, foram recolhidos aos cofres públicos R$15 bilhões com o imposto, o que representa um crescimento real de quase 15% em relação ao mesmo período no ano passado. Entram nessa conta o aumento do tributo para aplicações de estrangeiros em renda fixa e para compras com cartão de crédito fora do país. (Martha Beck)