Título: Caciques ampliam o valor da aliança
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2009, Política, p. 4

Dificuldades nos estados fazem com que o PMDB ameace desembarcar do projeto Dilma

Na Bahia, o ministro Geddel (PMDB) rompeu com Jaques Wagner (PT)

Uma ala do PMDB representada pelos deputados federais ameaça iniciar uma operação de desembarque da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, caso o PT aumente as dificuldades para as alianças nos estados. Os caciques peemedebistas já têm o discurso pronto: o eventual fracasso de um acordo presidencial está no colo dos petistas.

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (BA), os deputados Eunício Oliveira (CE), Eliseu Padilha (RS), Jader Barbalho (PA), além do líder da bancada, Henrique Alves (RN), se queixam da falta de reciprocidade do PT. O que mais se ouve na Câmara é que os petistas precisam chegar a uma conclusão: querem eleger diversos governadores ou o presidente da República?

As cúpulas dos partidos estão empenhadas na solução, mas esbarram na má vontade dos diretórios estaduais. Os caciques decidiram, então, agir e aumentar o fogo na panela de pressão. Na Bahia, Geddel rompeu com o governador Jaques Wagner. Entregou as duas secretarias que ocupava na administração e ameaça se lançar na disputa pelo estado. Jader tomou o mesmo rumo e está se colocando cada vez mais contra a governadora Ana Júlia Carepa, do Pará.

O Rio Grande do Sul é um dos estados contrários à ideia de jogar o PMDB no colo da ministra. Padilha não esconde críticas ao jeito Dilma Rousseff de fazer política. O deputado gaúcho já comentou em conversas reservadas que a chefe da Casa Civil não tem perfil de candidata. O Ceará e o Rio Grande do Norte têm problemas mais contornáveis, mas não podem ser descartados nesse xadrez. A questão no Ceará é definir a chapa que sairá ao Senado e como o PT vai se comportar. Eunício é um dos candidatos ao Senado. A outra vaga será definida pelo governador Cid Gomes (PSB), que não pretende puxar um petista, o que desagrada o partido. O sonho do ministro da Previdência, José Pimentel, é ser o escolhido.

Henrique Eduardo Alves tenta viabilizar um candidato próprio ao governo do Rio Grande do Norte e o senador Garibaldi Alves, seu primo, estuda aliança com a oposição, fazendo dupla para o Senado com o líder do DEM, José Agripino, e apoiando a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) ao governo. ¿O bom é que não teremos a verticalização. Eu posso apoiar a Rosalba e a ministra Dilma¿, esquivou-se Garibaldi.

Estagnação Esses discursos são inflamados ainda mais com o momento de estagnação pelo qual passa a candidatura de Dilma. E tudo isso pode inviabilizar a vontade do presidente Lula de ter um vice do PMDB. O próprios peemedebistas admitem isso. ¿Nós vamos tomar um lado. E hoje a maioria no partido é a favor da Dilma. O que pode acontecer é a gente não indicar um vice¿, disse um deles.

Os nós da união

Bahia O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), se coloca como candidato contra Jaques Wagner (PT). O ministro determinou que os cargos nas duas secretarias que o partido ocupava fossem devolvidos ao governador petista.

São Paulo O PMDB está com José Serra (PSDB), e o próprio PT vive crise interna diante da possibilidade de Ciro Gomes ser o candidato ao governo, como deseja Lula.

Minas Gerais Parte do PT não aceita compor com o PMDB e apoiar uma candidatura ao governo do ministro Hélio Costa (PMDB). Setores petistas, liderados pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, querem candidatura própria.

Pará O deputado Jader Barbalho (PMDB) coleciona rusgas com o governo de Ana Júlia Carepa (PT) e flerta com o PSDB.

Rio Grande do Sul Não há conversa possível entre os partidos.

Rio de Janeiro A candidatura de Lindberg Farias (PT) começa a ganhar musculatura e o partido não pretende apoiar a reeleição de Sérgio Cabral Filho.

Ceará Sem aval do presidente Lula, o ministro da Previdência, José Pimentel (PT), intensificou a propaganda no estado para se viabilizar como candidato ao Senado, o que incomodou o deputado Eunício Oliveira (PMDB).

Paraná O PMDB cobra do PT apoio ao candidato do governador Roberto Requião. O ministro Paulo Bernardo (PT) resiste à ideia.

Costura complexa

Sem a verticalização, regra que previa que a aliança nacional deveria ser a mesma nos estados, é mais fácil fechar, em Convenção Nacional, o apoio à candidatura petista, deixando o partido fazer o que achar melhor nos estados. Mas a situação regional é tão complicada que os peemedebistas ameaçam votar contra o apoio a Dilma.

Esse quadro de pressão alta deve ser melhor explicado. Neste momento de negociação, todo mundo quer tirar uma lasca a mais. ¿É essa a hora que todo mundo vai aumentar o tom um pouco mais para ganhar um pouco mais. É natural, neste momento, as ameaças¿, resume um peemedebista. O empenho pelo acordo é fato em ambas cúpulas. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), vem se dedicando a resolver os impasses nos estados com frequência. As soluções, no entanto, caminham no ritmo mais devagar do que todos gostariam.

Neolulistas O curioso é que com a exceção de Eunício Oliveira, aliado de primeira hora do presidente Lula, o grupo do desembarque é comando por neolulistas. Geddel, Padilha e Temer fizeram oposição no primeiro mandato do petista. Eles aderiram ao governo somente a partir de janeiro de 2007. Um dos catalisadores do movimento pró-Lula foi o ministro da Integração Nacional, que hoje protagoniza um dos cenários mais desgastados na relação com o PT, a Bahia. (TP)